Chatô, naquela vez, tinha razão – 2022

Corriam os tempos do governo João Goulart, setembro de 1963, com inflação, revoltas militares, campanha feroz da grande imprensa e etc…, quando foi anunciado que o marechal Josip Broz Tito, ditador da Iugoslávia, viria ao Brasil. Os governadores Adhemar de Barros (São Paulo) e Carlos Lacerda (Guanabara) anunciaram, sob os aplausos d`O Estado de São Paulo, que não receberiam o personagem, como se isso fizesse alguma diferença para o Tito.

Assis Chateaubriand, já com o corpo inteiramente paralisado pelo AVC que havia sofrido anos antes, apenas com o indicador da mão direita, escreveu um editorial para seus jornais, descendo a lenha nos três.

Disse Chatô que nossos governantes entendem tanto de política externa quanto entendiam os tapuias e tupinambás. Adhemar de Barros, Carlos Lacerda e Júlio de Mesquita Neto (o dono do jornalão) são “límpidos marginais em relação ao drama internacional”. “Vejo-os em 1500, de tanga, trepados nas árvores, à espera de que frei Henrique de Coimbra reze a primeira missa”.

Passados 59 anos, o “Messias” foi à Rússia para garantir “fertilizantes”. Putin, na semana passada, anunciou o veto da venda dos mesmos ao Brasil. O “Jajá Bozó”, que entende tanto de política externa quanto entendiam os tapuias e os tupinambás, agora se encontra de tanga, trepado na árvore, à espera que o saudoso Frei reze a primeira missa. Límpido marginal em relação ao drama internacional.

Maiores detalhes em:

MONTEIRO, Karla. Samuel Wainer: o homem que estava lá. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

MORAIS, Fernando. Chatô, o rei do Brasil: a vida de Assis Chateaubriand, um dos brasileiros mais poderosos do século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

*Paulo Roberto Ferreira Motta – 1960|2023

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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