Cicatriza mesmo não

Não Cicatriza, Marcelo Sandmann – Kotter Editorial.

Imagino que várias orelhas já devem ter começado assim, mas não consigo fugir do lugar-comum; este livro precisa de bula. O que devo saber antes de utilizar este livro? Quais os males que este livro pode causar? Parece coisa inofensiva: é curtinho, quase coloquial, até provoca diversão como efeito colateral imediato. Foi num upa que fiz minha primeira leitura. Que imprudência: depois de alguns minutos, meu estômago embrulho, minha condição humana foi reduzida a frangalhos, poemas transformados  em memes controlaram o que restou da minha atividade neuronal.

É necessário alertar: dentro de sua cápsula de delicadeza extrema, este livro contém uma violência incandescente. Beleza assustadora. Poesia no duro, na “dura treva” (e foi escrito antes da pandemia. Marcelo Sandmann  – que “está com a macaca” – já disse que na criação seu trabalho maior é o corte. Corta palavras, Fica só o talo.  Fica só o corte. Este livro corta tudo o que sobrou nos seus brilhantes livros anteriores. Como se fosse possível. E é. Fica só o sangue, muito sangue, bulindo, zunindo “como tiro ao pé do ouvido”. Cicatriza mesmo não.

Hermano Vianna

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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