“O Poderoso Chefão”, filme de 1972 de Francis Ford Coppola, fez 50 anos. Cinquentinha! É incrível, e mais ainda porque, visto hoje —e pela primeira vez para muitos—, seu impacto, ritmo e gramática parecem não trair esse meio século. Em contraste, nós que o vimos no lançamento sabemos como era, em 1972, assistir a filmes de 50 anos antes, de 1922. Por mais fabulosos, e mesmo que de Murnau, Abel Gance ou Erich von Stroheim, só tinham direito à telinha de 16 mm dos cineclubes ou à sessão de meia-noite num cinema de arte. Eram quase uma expedição à pré-história.
Os clássicos dos anos 30, vistos hoje, também costumam acusar idade. Os 30 foram uma década instável para o cinema, de muitas adaptações técnicas —ao som, ao Technicolor de três cores, à montagem mais dinâmica. Mas, dos anos 40 para cá, os filmes dominaram uma sintaxe básica que faz com que, exceto pelos cigarros e chapéus, possamos vê-los sem estranhamento.
De 1942, por exemplo, são “Casablanca”, de Michael Curtiz, “Contrastes Humanos”, o maior filme de Preston Sturges, e “O Fogo Sagrado”, de George Cukor. De 1952, “Cantando na Chuva”, de Gene Kelly e Stanley Donen, “Assim Estava Escrito”, de Vincente Minnelli, “Matar ou Morrer”, de Fred Zinnemann, “Scaramouche”, de George Sidney, “Desejos Proibidos”, de Max Ophuls.
De 1962, “O Milagre de Ana Sullivan”, de Arthur Penn, “Sob o Domínio do Mal”, de John Frankenheimer, “Lolita”, de Stanley Kubrick, “Lawrence da Arábia”, de David Lean, “Aquele que Sabe Viver”, de Dino Risi, “Boccaccio ’70”, de Fellini, Visconti e De Sica.
E 1972 não se limita a “O Poderoso Chefão”. Muitos filmes daquele ano continuam estalando de novos até hoje: “Cabaré”, de Bob Fosse, “Gritos e Sussurros”, de Ingmar Bergman, “Tudo que Você Sempre Quis Saber sobre Sexo…”, de Woody Allen, “Estado de Sítio”, de Costa-Gavras, “Avanti!”, de Billy Wilder. E ponha estalando nisso.