A lei é volúvel, não? Em 1948, a Suprema Corte dos EUA proibiu os estúdios de Hollywood de possuírem cadeias nacionais de salas de cinema. Os juízes consideraram que o controle da produção e da exibição caracterizava restrição ao livre comércio, leia-se monopólio. De fato, era uma concentração de poder que garantia que todos os filmes que eles produzissem fossem exibidos, já que os arrendatários das salas não podiam escolher o que passar. Os ligados à Paramount, por exemplo, teriam de comprar todo o lote do estúdio em 1949, do blockbuster “Sansão e Dalila”, de Cecil B. DeMille, ao mais humilde faroestinho de matinê.
Na época, 70 milhões de pessoas iam ao cinema por semana nos EUA, e Hollywood era das maiores indústrias do país, em faturamento e lucro. Só a MGM tinha mais de mil salas e os outros não ficavam atrás. Os juízes lhes deram dois anos para vendê-las e, quando o processo se completou, o antigo sistema de produção —que permitia aos estúdios rodar da noite para o dia musicais, épicos, filmes de guerra e o que fosse— ficou inviável. Eles tiveram de demitir, e lá se foram diretores, cenógrafos, roteiristas, maestros, coreógrafos, atores, maquinistas, operários. A partir daí, para cada filme contratavam-se apenas os elementos essenciais. Os custos subiram e, para piorar, surgiu a televisão. Hollywood nunca mais foi a mesma dos anos 20, 30 e dos próprios 40.
Desde então, os estúdios andaram de mão em mão, comprados por tubarões hoteleiros, imobiliários e até da gasolina, todos alheios ao cinema —daí talvez os filmes terem mudado tanto.
Leio agora que a Amazon comprou a MGM por US$ 8,45 bilhões. De posse do estúdio e do catálogo, poderá produzir, exibir e vender filmes pelos serviços que domina: comércio digital, mídias online e plataformas de streaming —a nuvem. É o monopólio do passado, do presente e do futuro.
A lei deve ter mudado.