Collor usou propina para pagar carros de luxo, diz PF

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Renan Calheiros e Fernando Collor. Foto de Pedro Ladeira|FolhaPress

Os carros de luxo do senador Fernando Collor (PTB-AL) foram pagos em parte com recursos com indícios de propina, associados a repasses do doleiro Alberto Youssef, segundo laudo da Polícia Federal obtido pela Folha.

A peça faz parte do processo contra o ex-presidente que está no STF (Supremo Tribunal Federal), no qual ele é acusado de ter recebido R$ 26 milhões em suborno em cinco anos em negócios relacionados à BR Distribuidora.

Os quatro carros citados no laudo custaram R$ 6,2 milhões. A coleção é composta de uma Lamborghini Aventador (R$ 3,2 milhões), uma Ferrari 458 (R$ 1,45 milhão), um Bentley Flying (R$ 975 mil) e um jipe Range Rover (R$ 570 mil).

A PF chegou à conclusão de que os carros foram pagos parcialmente com recursos de suborno depois de quebrar o sigilo e analisar 110 mil operações bancárias em 11 contas do senador, de sua mulher e de empresas dele, como a TV Gazeta de Alagoas.

O principal indício de que os carros foram pagos com repasses de propina é a forma como o dinheiro chegou às contas de Collor ou de suas empresas. Foram feitos depósitos em dinheiro vivo, fracionados em baixos valores para evitar que os órgãos do governo apontassem problemas. O fracionamento e a repetição dos valores são indicadores de lavagem de dinheiro.

A PF identificou 469 depósitos de R$ 2 mil nas contas controladas por Collor, segundo o laudo, num total de R$ 938 mil. Num só dia, 16 de agosto de 2011, foram feitos 35 depósitos de R$ 2 mil. Também foram feitos 46 depósitos de R$ 1.500. Todos os depósitos foram feitos em um caixa eletrônico de uma agência do banco Itaú em Brasília, a mesma que aparece nos comprovantes apreendidos com Alberto Youssef.

A DELAÇÃO DO DOLEIRO

O doleiro relatou em seu acordo de delação que os depósitos em espécie na conta do jornal “Gazeta de Alagoas”, da família do senador, “eram destinados a Fernando Collor” e foram ordenados pelo empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, que é investigado junto com o ex-presidente. Youssef disse que fez mais de uma dezena de repasses a Collor.

Depósitos em espécie na conta da TV Gazeta, que também pertence à família do senador, foram repassados integralmente a Collor e usados no pagamentos dos veículos, segundo o laudo.

Pela coincidência de datas, a PF diz que esses recursos foram usados parcialmente na compra dos automóveis: “Os pagamentos dos veículos podem ser inequivocadamente associados aos depósitos em espécie”, afirma o documento, assinado por três peritos do Instituto Nacional de Criminalística.

No caso da compra do Bentley e do Range Rover, há no laudo a estimativa de que 35% do valor dos carros foram pagos com recursos que chegaram ao senador por meio de depósitos feitos no mesmo caixa eletrônico. Os quatro carros foram comprados em nome de uma empresa de Collor que não tem funcionários nem atividade, diz a PF, chamada de Água Branca Participações Ltda.

Collor virou alvo de ironias entre policiais e procuradores da Operação Lava Jato por ter sido, até agora, o único dos investigados que recebeu pagamentos de Youssef em sua própria conta corrente e na da “Gazeta de Alagoas” no montante de R$ 67 mil.

O laudo da PF cobre o período que vai de janeiro de 2011 e abril de 2014, no qual o ex-presidente recebeu R$ 12,4 milhões.

OUTRO LADO

O senador Fernando Collor (PTB-AL) diz que jamais “manteve qualquer relacionamento com o delator Alberto Youssef, conforme reconhecido pelo próprio doleiro na miríade de suas delações”. Como nunca tiveram negócios, segundo o ex-presidente, não havia razões para Youssef fazer depósitos em sua conta.

Sobre os depósitos em dinheiro feitos em contas dele e de suas empresas, Collor diz por meio de sua assessoria”não tem qualquer responsabilidade sobre o modo utilizado por terceiras pessoas para o depósito de valores em sua conta corrente”.

Ele afirma não ter determinado o depósito em valores fracionados, “método que, aliás, protege apenas o depositante e não o beneficiário, na medida em que os valores são creditados em conta de sua titularidade”

O senador afirma também que não participa da gestão nem do cotidiano da TV Gazeta e “Gazeta de Alagoas”.

“Se terceiros se utilizaram desse expediente para honrar compromissos com o senador ou com as empresas TV Gazeta e ´Gazeta de Alagoas´, isso jamais foi de seu conhecimento”.

O ex-presidente ressalta ainda que lhe causa perplexidade “o vazamento sistemático de informações e manipulações”, feitas para constrangê-lo, ” mesmo antes de apresentadas as razões da defesa em sua inteireza”.

Do site UOL

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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