Com Trump eleito, medo toma conta da comunidade muçulmana nos EUA

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© Myskiciewicz

Esra Nur Altun, 19, caminhava até seu carro, na garagem da Universidade Estadual de San José (Califórnia), na quarta (9). Do nada, um homem chegou e tentou arrancar seu hijab (véu que cobre os cabelos e o colo).

“Me fez sufocar, e minhas costas arquearam. Tentei me livrar, caí de joelhos, e ele correu”, contou à rede NBC.

Nascida no Uzbequistão, a estudante de psicologia não viu o rosto do seu agressor, coberto por um capuz. Mas reconheceu a face do preconceito contra muçulmanos. “Não sei por que ele fez isso. Mas é uma estranha coincidência ter acontecido logo depois de Donald Trump ter sido eleito.

Na véspera, o país elegeu o republicano, querido pela maioria dos movimentos extremistas –uma das alas da Ku Klux Klan agendou uma “marcha da vitória” para dezembro, na Carolina do Norte, e fez um acrônimo com o nome do presidente eleito (“Trump’s Race United My People”, ou a Raça de Trump Uniu Minha Gente).

Vivem nos EUA 3,3 milhões de muçulmanos, 1% da população. Na comunidade, é forte a fobia de uma Casa Branca sob a guarda do empresário que prometeu dar um pontapé no “politicamente correto” e vetar a entrada de muçulmanos no país.

Trump despachou a ideia na esteira de atentados como o de San Bernardino e Orlando, cometidos por adeptos dessa fé que, contudo, já eram naturalizados ou nascidos no país.

Ainda não se sabe como e se ele fará tudo o que prometeu durante a campanha. O republicano já havia recuado da proposta em parte, dizendo que só baniria muçulmanos de países com histórico terrorista, como refugiados sírios (ainda que muitos autores de ataques ao redor do mundo tenham nacionalidade europeia).

Antes de virar seu vice, Mike Pence definiu a interdição como “ofensiva e inconstitucional”. Em outubro, disse que ela “não era mais a posição de Trump”. Menos de 24 horas após a eleição, o presidente eleito deixou jornalistas falando sozinhos depois de ser questionado se cumpriria o prometido.

Ainda que modere sua retórica, o estrago já está feito, diz à Folha Farid Senzai, autor de “Islã Político da Era da Democratização”.

“Aqueles que têm visões negativas dos muçulmanos estão mais à vontade para agir impulsivamente se o presidente diz coisas que demonizam todo um grupo.”

Crimes de ódio contra muçulmanos dispararam nos EUA. Estima-se que 78 mesquitas tenham sido atacadas em 2015, quatro vezes mais do que em 2014 –34 delas em novembro e dezembro, meses dos atentados em Paris e San Bernardino.

Com Trump eleito, o medo tomou conta da comunidade.

Na internet, mulheres discutem se devem ou não usar o véu nas ruas. “Minha mãe me mandou uma mensagem agora: ‘Não use o hijab, por favor. E ela é a pessoa mais religiosa da família'”, lamentava uma.

Outra recomendava: “Se você temer violência, então tudo bem sair sem [véu], Alá irá entender e perdoar”.

Além de Esra, outra universitária muçulmana relatou agressão na quarta na Califórnia. Afirmou ter sido seguida por dois homens que exaltaram Trump e roubaram seu carro, em San Diego.

Em outubro, a polícia preveniu um desastre maior.

Gavin Wright, um homem que nas redes sociais postava fotos sorridentes e imagens fofas do Snoopy, foi preso em outubro, no Kansas. Ele e dois amigos formavam uma milícia que prometia “um banho de sangue” contra muçulmanos.

Os “paladinos”, como se batizaram, queriam deflagrar uma “guerra religiosa”. O plano era começar no dia da eleição, explodindo um condomínio onde viviam imigrantes da Somália.

Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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