O caso estava em julgamento desde então, e a sentença de condenação (da qual os advogados, claro, já recorreram) provocou uma inquietação danada nos círculos científicos. Os cientistas ficam numa encruzilhada dos diabos numa situação assim. Por um lado, um dos aspectos de que a Ciência mais se orgulha é de sua capacidade de prever resultados de experiências ou de fatos do cotidiano, pela simples compreensão das leis físicas que o determinam. Quando a Ciência entende um processo, ela é capaz de dizer: “Se as coisas estão assim, em tal-ou-tal momento ficarão desta outra forma”.
O problema é que justamente em áreas como sismologia (e vulcanologia, meteorologia, etc.), nunca se pode ter uma certeza absoluta. É um mundo parecido com o dos fenômenos sociais, das ciências humanas: o que se tem são condições básicas, indícios eventuais e tendências futuras. Conhecendo as condições, é possível interpretar os indícios recolhidos hoje e imaginar que tipo de consequência futura eles podem ter. Mas isso nunca é uma certeza. Com relação ao clima e às profundezas do subsolo, as variáveis envolvidas são numerosas demais para permitir uma “profecia” – e a Ciência nos acostumou a pedir profecias, certezas.
Os cientistas disseram que um terremoto naqueles dias era improvável, e que não dava para considerá-lo nem uma certeza nem uma impossibilidade. A grande quantidade de mortos e o fato do julgamento ter sido local, inclusive o juiz, o promotor e o público, pode ter influído no veredito. O cientista inglês Malcolm Sperrin afirmou: “Se a comunidade científica vai ser penalizada por ter feito previsões incorretas, ou por não prever com exatidão um evento que veio a ocorrer, então a atividade científica vai se ver restrita somente a certezas, e os benefícios decorrentes de descobertas em campos desde a Medicina e a Física serão bloqueados”. A Ciência está pagando o preço da imagem que sempre procura vender (o que eu descubro tem utilidade prática”), para poder conseguir verbas e financiamentos.