concursos como esse já trouxeram à luz trabalhos de desenhistas como spacca, hoje produzindo livros, fernando gonsales e caco galhardo que, até hoje, continuam impávidos colosso na seção de tirinhas.
apesar de não haver grandes novidades e com várias sensações de já vi isso antes, me parece que a que a seleção é mais homogênea do que em outras edições.
pode ser impressão.
deveríamos entrar nos sites e páginas pessoais de cada um para saber se todos têm uma produção coerente e contínua ao longo dos anos.
digo isso porque, detalhe, as idades dos premiados não são as de novatos. todos giram em torno dos 30, com um de 25, dois de 27 e dois na faixa dos 50.
a folha sempre procurando surpreender.
nesse ponto, há de se tirar o chapéu para o diário. a folha sempre foi o jornal que mais abriu espaço para novos talentos, para desenhistas com um futuro promissor, apostas que ficaram pelo meio do caminho e um grande número de colaboradores sempre.
o prêmio para os selecionados (desistiram da opção de haver um grande vencedor) é a publicação de pelo menos UMA vez nas páginas do maior jornal do país.
aqui é onde o assunto começa.
as grandes publicações do país estamparam em suas páginas nomes como millôr, ziraldo, jaguar, fortuna. assim, revistas como realidade, o cruzeiro ou senhor fizeram história.
na folha, nomes como angeli, laerte, glauco, emílio damiani, mariza, luiz gê, só para ficar entre alguns, se mimetizaram com a história do jornal e vice e versa.
é o angeli da folha ou a folha do angeli? é a folha do níquel náusea ou o níquel náusea da folha?
ilustradores, cartunistas, chargistas, assim como os colunistas fixos são o que dão a cara da publicação. só publicando diariamente que se constrói um portifolio que irá ser cúmplice do jornal e do leitor.
a folha tem hoje cerca de 60 desenhistas orbitando ao seu redor. cada um publica uma vez a cada semana ou 15 dias.
é meio como um casamento sem sexo, desinteressante, sem história, sem tesão.
concursos como esse, neste cenário, querem dizer absolutamente nada porque não se procura o compromisso, a troca com o leitor.
é um factóide que não tem resultado nenhum para nenhum dos lados.
para o desenhista não existe a visibilidade ou a possibilidade de se construir um universo; para o leitor, cada vez mais esporádico, intimidade alguma; para o jornal, parceria ou identidade alguma.
publicar num jornal diário ou numa publicação semanal, é um ofício e esse ofício vai sendo construído diariamente com novas ideias, novas soluções, novos desafios.
é quase uma missão.
a história mundial das artes gráficas e do jornalismo é construída a partir dessa intimidade entre o publicador, o jornalista, o desenhista e o leitor.
aqui, na contra-mão, se aposta num fast-food sem sal, sem gosto e que já demonstra sinais de fadiga.
desenhistas se espelhavam nos grandes profissionais para se tornarem melhores, conseguirem seu lugar no panteão, respirar o mesmo ar que seus ídolos respiravam dentro das redações ou grandes encontros.
criticamos músicos de uma música só, atores de uma novela só, autores de um livro só. num momento tão vital para a vida dos grandes jornais, apostar no eterno amadorismo, no sucateamento, na precarização do trabalho e na falta de intimidade com o leitor me parece ser um tiro no pé que levará anos para ser curado.