Yolanda Bel, uma cantora de cabaré que perde o namorado de forma violenta, não vê mais sentido na vida além de servir a Deus. Ela se interna no convento das “redentoras humilhadas”, um retiro espiritual para freiras que já foram prostitutas, assassinas, cafetinas, entre outras profissões nada nobres.
O universo aí criado é o do desejo, mas para isso é necessário que para isso existam personagens. Não tipos, caracteres ou agrupados de psicologismos, mas verdadeiros personagens. Pessoas que sejam ultrapassadas a cada momento por relações que rompam um encadeamento lógico/psicológico prévio e possam ser rasgados por uma força que os supera e modifica. Para que o universo do desejo possa existir, é preciso que o personagem seja composto como um animal-humano, sucumbindo mais aos instintos do que aos chamados da razão. Para que o personagem do desejo exista, é fundamental que ele seja, antes de tudo, pathos. O amor de uma freira por uma night star ou o desejo de maternidade, por exemplo.
Maus Hábitos, nesse sentido, apresenta-se como um filme de desejo. As freiras ultrapassam os dogmas religiosos e os comportamentos predeterminados para tentar viver de acordo com algo que mais respeite seus desejos. Os vícios, o desejo de imolação, humilhação participam dessa economia de desejos animais. Mas é o amor da madre superiora pela famosa cantora que rompe todos os estados prévios e faz com que tudo mude. A cantora, mais do que fato narrativo, é o que faz com que o desejo possa fluir em Maus Hábitos. E ela é a única que pode causar grandes estragos, realizar as grandes cisões de sentimento.
Sobre o Contramão
O Contramão foi criado a partir do Curso de Cultura Cinematográfica com o propósito de exibir na íntegra, para os alunos e para a comunidade, alguns filmes citados em sala de aula. Em cada sessão, o que se procura é destacar filmes menos convencionais e que estejam inseridos na contramão do massificado cinema industrial.