Craques no camarim

Como depilar-se, fazer sobrancelhas, branquear os dentes e treinar ao mesmo tempo

vitória do Brasil na Copa América é a prova de que se pode jogar futebol e cuidar da cútis ao mesmo tempo. Basta haver organização. Para isso, a CBF faz um organograma de treinos adequado às visitas dos maquiadores, cabeleireiros e tatuadores à concentração. Como cada jogador tem o seu homem de confiança para certas tarefas, não é uma logística simples. O modelo, design e contorno da sobrancelha de Gabriel Jesus, por exemplo, é resultado de horas de micropigmentação, só ao alcance de um especialista.

Outra operação complexa é a depilação. Foi-se o tempo em que os craques se passavam pelos velhos presto-barba, máquina de barbeiro ou cera quente no salão da Jéssica. Hoje se usa a pistola de laser, e não se limita ao púbis e axilas —cobre todo o corpo e leva tempo. O mesmo quanto ao cabelo. Só um profissional sabe a musse adequada ao cabelo de Fagner ou Willian. E, embora a CBF forneça os podólogos, para lhes cuidar das unhas dos pés, os manicuros —não manicures— são de escolha exclusiva deles. Não é qualquer um que pode cortar, lixar e pintar as unhas das mãos de Daniel Alves, nem cuidar de seus hiponíquios, que é como passaram a se chamar as cutículas.

O branqueamento dos dentes, que pena, só pode ser feito no consultório. Mas, depois de pronto o trabalho, basta escovar os dentes com Omo, como fazem Casemiro e Firmino. E há também o problema dos brincos e piercings. Se a aplicação é simples, o difícil é o design —ouro ou prata?—, só decidido depois de muitas reuniões com os ourives da H. Stern.

Sem falar nas visitas dos alfaiates, para medir, cortar e alinhavar ternos que combinem com os bonés, tênis e mochilas que eles são obrigados a usar, por seus contratos pessoais. E dos dermatologistas, com suas receitas de hidratantes para cada tipo de pele. Etc.

Nunca foi tão difícil jogar futebol!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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