CULO VEO, CULO QUIERO

CULO VEO, CULO QUIERO

Demorei para entender, menos que você, leitor. Meu portunhol quebra o galho na Tríplice Fronteira, mas fiquei vendido em Santander, cidadezinha da Cantábria, Espanha, onde nasceu o banco hoje importante no Brasil. O espanhol aqui é o clássico, pronúncia sofisticada, pouco importa seja no bar onde comemos tapas, seja nas lojas da Zara, orgulho nacional.

Por acaso estava justamente em sucursal da Zara, com nome de galã italiano, moda masculina, na fila do caixa para pagar o pacote de meias. Sim, eu com as minguadas meias e a família inteira de portugueses atravancando a bicha – como os portugueses de antigamente chamavam as filas. Pai, mãe, cinco miúdos, crianças em lusitano, e a sogra.

Atolados de pacotes, seguram a fila por bons vinte minutos, eu a maldizê-los pela espera, pela insignificância de minha compra e pela variedade do que levavam da loja, além da matalotagem de compras anteriores. Finalmente chega minha vez. Recebo do caixa o olhar piedoso e o comentário solidário: culo veo, culo quiero. Gente que quer tudo que vê. Se o culo agradar, querem levar.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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