Por sua opinião sobre os estudantes, Weintraub parece nunca ter se sentado em uma sala de aula
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem nos brindado com seu precário domínio da aritmética, pouca intimidade com a literatura e hilárias batatadas no uso da língua portuguesa. Isso explica um boletim cheio de zeros em seu curso de ciências econômicas da USP —que, sabe-se lá como, o diplomou. Mas, depois de sua denúncia de que os professores estariam “coagindo os estudantes” a participar de protestos, começa-se a desconfiar de que foi por correspondência que Weintraub fez sua carreira escolar.
Só alguém que nunca se sentou em uma sala de aula, em meio a uma classe e diante de um professor, é capaz de imaginar os estudantes como um bando de palermas que se sujeitam a coações. Nenhum professor tem a admiração incondicional da turma e muitos são ostensivamente contestados. No curso secundário, essa contestação pode se dar pelo desinteresse dos alunos pela aula e até pela hostilidade física ao mestre.
Na universidade, esse confronto, por mais adulto, é ainda pior. Nenhum professor é capaz de impor sua opinião a um aluno que já não esteja de acordo com ele. A ideia de um universitário brasileiro se deixando manipular por um professor é ofensiva a toda a categoria.
Gostaria de ver o professor Weintraub diante da minha turma de ciências sociais na antiga Universidade do Brasil, hoje UFRJ, em fins dos anos 60. Teria de se entender com rapazes e moças, de todas as colorações políticas, capazes de lhe dar aulas de sociologia, antropologia, ciência política, história, literatura e até da sua suposta especialidade, economia. Que estou dizendo? Weintraub não sustentaria cinco minutos com nenhum deles.
Só um idiota se deixaria coagir por um professor. Mas, com a avalanche de informação hoje ao alcance de qualquer jovem, já não deve haver idiotas entre os estudantes brasileiros. Se houver, estão morando dentro da cabeça do presidente Bolsonaro.