Curso por correspondência

Por sua opinião sobre os estudantes, Weintraub parece nunca ter se sentado em uma sala de aula

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, tem nos brindado com seu precário domínio da aritmética, pouca intimidade com a literatura e hilárias batatadas no uso da língua portuguesa. Isso explica um boletim cheio de zeros em seu curso de ciências econômicas da USP —que, sabe-se lá como, o diplomou. Mas, depois de sua denúncia de que os professores estariam “coagindo os estudantes” a participar de protestos, começa-se a desconfiar de que foi por correspondência que Weintraub fez sua carreira escolar.  

Só alguém que nunca se sentou em uma sala de aula, em meio a uma classe e diante de um professor, é capaz de imaginar os estudantes como um bando de palermas que se sujeitam a coações. Nenhum professor tem a admiração incondicional da turma e muitos são ostensivamente contestados. No curso secundário, essa contestação pode se dar pelo desinteresse dos alunos pela aula e até pela hostilidade física ao mestre.

Na universidade, esse confronto, por mais adulto, é ainda pior. Nenhum professor é capaz de impor sua opinião a um aluno que já não esteja de acordo com ele. A ideia de um universitário brasileiro se deixando manipular por um professor é ofensiva a toda a categoria.

Gostaria de ver o professor Weintraub diante da minha turma de ciências sociais na antiga Universidade do Brasil, hoje UFRJ, em fins dos anos 60. Teria de se entender com rapazes e moças, de todas as colorações políticas, capazes de lhe dar aulas de sociologia, antropologia, ciência política, história, literatura e até da sua suposta especialidade, economia. Que estou dizendo? Weintraub não sustentaria cinco minutos com nenhum deles.

Só um idiota se deixaria coagir por um professor. Mas, com a avalanche de informação hoje ao alcance de qualquer jovem, já não deve haver idiotas entre os estudantes brasileiros. Se houver, estão morando dentro da cabeça do presidente Bolsonaro.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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