A exoneração de Roberto Alvim da Secretaria Especial da Cultura, após o vídeo no qual parafraseou o ministro da propaganda nazista, Joseph Goebbels, continua tendo repercussão internacional. O jornal Le Monde de refere-se a Alvim como um “Goebbolsonarista”, e ainda diz que ele não é o único personagem controvertido, para não dizer “iluminado”, a ocupar cargos de alto escalão na área da cultura no governo de Jair Bolsonaro.
“Muita gente suspeitava que o governo de extrema-direita brasileiro tinha simpatia pelo 3° Reich e, agora, tiveram a prova”, escreve o jornal francês. Le Monde aponta outros colaboradores de Bolsonaro dispostos a criar “uma máquina de guerra cultural”, copiada da propaganda nazista, para agradar o chefe.
À frente da Biblioteca Nacional, Rafael Nogueira, “monarquista convicto”, é um deles, cita o Le Monde, lembrando que este olavista disse que Caetano Veloso era reponsável pelo analfabetismo no Brasil. “Mais doido ainda: o novo presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte), o maestro Dante Mantovani, acredita que “o rock ativa drogas, sexo, aborto e satanismo”, relata o respeitado jornal francês. Mantovani também propaga que a Terra é plana.
Segundo o texto do correspondente Bruno Meyerfeld, o vídeo de Alvim não se contenta em tomar emprestado a verve de Joseph Goebbels, mas também copia a aparência física e o tom grandiloquente do nazista, ao pedir o surgimento de “formas estéticas poderosas, favorecidas pelas virtudes da fé, da lealdade, do autossacrifício e da luta contra o mal” em seu vídeo, agora retirado da internet. “A ópera Lohengrin, de Richard Wagner, apreciada por Adolf Hitler, dissipa as últimas dúvidas sobre as fontes de inspiração do orador”, destaca.
Le Monde reporta que o vídeo gerou intensos protestos. O jornal reproduz a nota da Confederação Israelita do Brasil (Conib): “Imitar a visão [de Goebbels] é um sinal assustador […] Essa pessoa não pode controlar a cultura do nosso país”, condenou a entidade. Acrescenta que autoridades religiosas, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e a embaixada de Israel também se manifestaram horrorizadas.
Sem dúvida, Bolsonaro reagiu para não perder o apoio de seu “amigo” Benjamin Netanyahu, avalia o vespertino francês. O chefe de Estado brasileiro afirmou sua “rejeição a ideologias totalitárias e genocidas” e seu “apoio total e irrestrito à comunidade judaica ”.
Mas, para um governo que ainda tem um Rafael Nogueira e um Dante Mantovanià frente de instituições culturais, o risco de novos deslizes não acabou.