Darcy Ribeiro – muito mais do que crônicas

Antropólogo foi uma figura marcante na história do Brasil

Brindado por um amigo com Crônicas Brasileiras, de Darcy Ribeiro, organização e apresentação de Eric Nepomuceno – Desiderata, Biblioteca Brasileira, há quem tenha devorado o livro na tal quarentena. E não resistiu, sublinhando grande parte dos textos escritos entre 1995 e 1997, quando Darcy mantinha uma coluna semanal na Folha de S.Paulo.

 Alguns dos trechos, ou lições do professor:

– Não há maior besteira que a de um brasileiro embasbacar-se com a doutrina norte-americana da globalização. (…) Falta-nos, essencialmente, vontade política para formular e pôr em execução um projeto próprio de desenvolvimento autônomo.

– O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso.

– Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada.

– Viva aceso, olhando e conhecendo o mundo que o rodeia, aprendendo como um índio (…) seja um índio na sabedoria.

– Floresce no Brasil uma pedagogia tarada e vadia, segundo a qual o fracasso da criança pobre na escola é culpa dela própria.

– Ninguém se comove, de fato, com uma criança faminta ou com um jovem condenado ao analfabetismo. Contanto que os filhos da gente de bem comam fartamente e estudem em boas escolas, o resto não importa.

– A miragem da globalização, pregada unanimemente pela mídia num consenso comprado, é um engodo. (…) Restaurada em todo o seu poderio, seria para o Brasil uma recolonização.

– É nossa tradição: em nome do progresso futuro, vendemos o passado, ou o que nos restou dele.

– Gosto muito do Brasil. Muito demais. Sou patriota à moda antiga, verde-amarelo, vibrante. (…) fico danado quando vejo alguém nascido aqui ter descaso pela patrinha.

– Presente, passado e futuro? Tolice. Não existem. A vida é uma ponte interminável. Vai-se construindo e destruindo. O que vai ficando para trás com o passado é a morte. O que está vivo vai adiante.

Escritor, educador e político

Darcy Ribeiro, mineiro de Montes Claros, nasceu no dia 26 de outubro de 1922. Formou-se em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1946, e teve carreira de projeção internacional, principalmente nas áreas de antropologia, etnologia e educação. Um estudioso e defensor do modo de vida dos povos indígenas, em 1954 organizou no Rio de Janeiro o Museu do Índio, o qual dirigiu até 1957.

Ainda em 1954, elaborou o plano de criação do Parque Indígena do Xingu, situado no então Mato Grosso que, em 1977, seria desmembrado, surgindo o Mato Grosso do Sul. Uma figura presente e marcante nos momentos centrais da história do país.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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