De fritar ovo no asfalto

Com esse verão dos infernos que o aquecimento global nos promete, acrescido da falta de água, luz e com trânsito engarrafado em todos os caminhos que nos levam ao mar, uma velha dúvida nos assalta quando precisamos pegar a estrada para o Réveillon: afinal, será possível fritar ovos no asfalto? Será que o calor pode chegar a fritar um ovo em pleno asfalto no caminho das praias?

Tirei a dúvida ao ler o O que Einstein disse ao seu cozinheiro, do professor de química da Universidade de Química de Pittsburg, Robert L. Wolke. Mesmo com essa temperatura senegalesca desses primeiros dias de verão, não é provável que se consiga fritar um ovo no asfalto
na altura de Joinville.

É pouco provável, diz o professor, mas a opinião científica não deve desencorajar as pessoas de tentarem essa possibilidade.
De preferência com algumas pitadas de sal e pimenta.

Não se sabe ainda se algum cidadão de Cascavel já tentou assar uma picanha no asfalto que atravessa a cidade, mas tem uma cidade no Arizona, Oatman, no velho Deserto do Moljave, onde 150 pessoas fazem uma competição anual de fritar ovos no asfalto, todo 4 de julho, às margens da famosa Route 66.

De acordo com o organizador de fritura de ovos, Fred Eck, vencem a prova os concorrentes que chegam mais perto de cozinhar um ovo em 15 minutos apenas por exposição ao sol.
De vez em quando, conta o professor Robert Wolke, um ovo fica cozido em Oatman, um dos pontos mais quentes do mundo. Só que, para tanto, as regras permitem coisas do tipo lentes de aumento, espelhos, refletores de alumínio e similares.

Dentro do exato espírito do termo, segundo Wolke, esses recursos não deviam valer:
“Estamos falando aqui em quebrar um ovo diretamente no chão e deixá-lo lá”.

Há alguns anos o autor de O que Einstein disse ao seu cozinheiro esteve em Austin, no Texas, durante uma onda de calor, e resolveu fazer a experiência de fritar um ovo na calçada, sem qualquer dispositivo ótico ou mecânico. Numa tarde especialmente tórrida,
quebrou-o diretamente na superfície de 63 graus centígrados do estacionamento pavimentado com asfalto. E esperou, sem nenhum resultado. Só cozinhou as bordas da clara.

Na verdade, só se tem notícia de uma experiência que tenha dado resultado. Existem testemunhas que viram um cinejornal sobre a Segunda Guerra Mundial onde dois soldados do Afrika Korps fritaram um ovo no pára-choque de um tanque.
“Eles limparam um pedaço descreve o professor Wolke, despejaram um pouco de óleo, espalharam-no um pouco e quebraram dois ovos na superfície. As claras ficaram opacas tão rapidamente quanto como se estivessem numa frigideira.”

Há pouco tempo o professor de química descobriu por que a experiência de fritar ovos no asfalto deu certo em plena guerra:
“Olhando no almanaque, descobri que a temperatura mais alta já registrada foi de 58 graus centígrados em 13 de setembro de 1922, em Azizia, na Líbia, não muito longe de onde estava o tanque alemão”.

****

É preciso lembrar que o professor Wolke nunca tentou fritar um ovo na cabeça de um veranista de Matinhos, em pleno meio-dia. Não custa tentar: a opinião científica não deve desencorajar as pessoas de tentarem essa possibilidade.

Dante Mendonça [26/12/2007]O Estado do Paraná

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Sem categoria. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.