Abstrato, Antonio Bandeira.
É difícil explicar. Outro dia, durante uma noite conturbada, invadiu-me dois sonhos expressivos que tinham como cenário a minha velha Curitiba, onde deixei as quimeras da infância e da adolescência. (Para quem não sabe, sou um curitibano ausente desde que a experiência do jornal Scaps, com o Retta e o Solda e o Rogério e o Marins chegou ao fim, em 1976. Não esquecer do Jack Pires.) Os sonhos, aqueles e estes, muitas vezes inexplicáveis na sua linguagem, situam-se num tempo anterior e apresentam pigmentação datada: 1954. Apenas o cenário é o mesmo.
“Minha mãe me ajudava a subir a escada de madeira escura pelo corrimão alto. O anúncio da Foto Brasil em cima a ranger na Rua XV. O cenário de nuvens, terço entre as mãos, catecismo e corpo fechados. Primeira comunhão na Foto Brasil.”
“Voar é assim como estabelecer harmonia. Verbo intransitivo. Você voa se quiser voar. Hoje em dia existem mil ofertas e oportunidades. O melhor sinônimo é desaparecer rapidamente, virar fidusca em pó.
— Agora escute – interveio ele com ar pensativo. Não é realmente curioso que neste exato momento meninos de pernas finas e beiços tremidos possam estar chamando galinhas, fazendo bruuurrrpiii pipipi e sacudindo a mão cheia de milho e pirão esfarelado? ”
Acordei com a camiseta molhada de suor e uma única convicção: o homem submarino, nas profundezas, engole as dúvidas e se refresca na certeza de que as águas rolam.
Toninho Vaz, de Santa Teresa
Uma resposta a De Homens e Quimeras (Fidusca Em Pó).