Decoro? Que decoro?

BRASÍLIA – O surgimento de novas provas na Lava Jato não reduziu em nada a ousadia de Eduardo Cunha. Na volta do recesso, ele voltou a usar o cargo para atrapalhar o processo que pede sua cassação por quebra de decoro parlamentar

Em mais uma manobra ostensiva, o deputado anulou a sessão do Conselho de Ética que aprovou relatório preliminar contra ele. A intervenção foi formalizada pelo vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão, também investigado no petrolão.

“A decisão é um absurdo”, me disse ontem o presidente do conselho, José Carlos Araújo. Apesar da indignação, ele será obrigado a cumprir a ordem. “O Cunha quer que o conselho se subordine a ele”, protestou.

Em tom de desafio ao Supremo Tribunal Federal, o peemedebista disse que não deixará o cargo mesmo que os ministros aceitem a denúncia contra ele. “Já fui réu quando era líder do PMDB”, desdenhou. “Vou continuar em qualquer circunstância.”

Deputados de seis partidos foram ontem ao Supremo protestar contra a intervenção de Cunha no Conselho de Ética. Eles aproveitaram para levar cópia do depoimento do lobista Fernando Baiano, preso em Curitiba. No vídeo, o delator confirma ter repassado propina ao peemedebista e dá detalhes sobre a aparência e a localização de sua casa, em condomínio fechado na Barra da Tijuca.

Cunha já havia sido pego na mentira ao dizer à CPI da Petrobras que não tinha contas no exterior. Como ele também negou ter recebido visitas de Baiano, o Conselho de Ética poderá processá-lo por mais uma quebra de decoro. Se ele deixar, é claro.O país avançou ontem mais um grau na escala de irracionalidade política. De um lado, eleitores irritados com o governo bateram panelas para abafar um pronunciamento sobre saúde pública. Do outro, petistas foram às redes sociais para tentar vincular o vírus zika ao PSDB. Nessa disputa, só quem ganha é o mosquito.

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Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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