Há certas coisas que, por mais que eu me esforce, não consigo entender. E acho que já estou velho demais para aprender. Por exemplo: a inflação não está caindo no Brasil? Os juros não estão em queda? O número de desempregados também não está diminuindo? A Bolsa não anda em alta e o dólar em baixa? E o tal mercado não prevê o crescimento do PIB neste 2017 da graça de Deus? Então, por que razão a popularidade de S. Exª. o senhor presidente da República rala o chão, perto dos 3%?!
Talvez seja por isso que nunca me comoveu a popularidade de um governo – a não ser, e de certa forma, o de JK, no tempo da bossa nova. Governo não tem de ser popular. Se for, melhor, mas governo tem de funcionar. Cito a notável Adélia Prado: “Quero que me governe um homem bom e justo, que cuide para que, chegando a noite, todo mundo vá dormir cansado com tanto trabalho que tinha para fazer e foi feito. Nem me importa se quem manda é rei vindo em linha direta de Salomão…”
Não votei em Michel Temer. Jamais votaria. Quem o colocou no trono de Brasília foi o PT de Lula, que precisava do PMDB de Michel para chegar ao poder, e a inépcia administrativa de Dilma, que levou o Brasil à concordata.
Ah, o homem é corrupto… Talvez seja, parece que é, mas ainda não há prova contundente. Depois, quem não é corrupto na Brasília de hoje em dia? Alguns poucos, com certeza, já que toda regra tem a sua exceção. Mas os decentes do planalto central estão… para não dizer escondidos, digo embiocados. De vergonha. Michel anda em má companhia? Sem dúvida. Mas a má companhia é outra praxe habitual na capital federal desde os seus primórdios. Fala bobagens? Sim, e como! Mas também não está só nessa marcha.
Ademais, se Temer for arredado do poder, quem o sucederia? Rodrigo Maia? Eunício Oliveira? Renan? Aécio? Jáder? Jucá? Tasso? Bolsonaro? Maluf? Collor? Ou, quem sabe, a senadora Gleisi Hoffmann? A “nata” da política nacional!…
Não, deixa Michel lá. Até dezembro de 2018, se um escândalo novo não surgir. Dele já conhecemos os defeitos e nele estão pregados os olhos da imprensa e da população. Tem pouca margem de manobra. E, aos poucos, vai até aprovando algumas reformas. Não as que seriam necessárias, mas aquelas que os nobres deputados e senadores deixarem. Aquela gente – é necessário frisar – que o nosso voto irresponsável colocou no Congresso Nacional.
E então admitiríamos que “os fins justificam os meios”, afirmação falsamente atribuída a Maquiavel. Não, propriamente. Até porque a frase sequer consta de “O Príncipe”, de Nicolau. Ademais, tirante o fato de que o atual presidente deseja manter-se no poder – o que até pode ser tido como desejo legítimo –, ele ainda não foi pilhado em atitude ética e moralmente condenável para realizar os seus planos e atingir os seus objetivos.
Por isso, fica mais barato para o Brasil e para o povo brasileiro conservar Temer no Jaburu. A conclusão não é política nem ideológica, mas apenas lógica.
Acresce o fato de que, de uma maneira geral, as pesquisas de opinião pública merecem muito pouco crédito. São negócios, realizados sempre por interesse de alguém. Além do que, as amostragens são falhas, direcionadas e, em regra, em desacordo com a realidade. E inconcludentes e contraditórias. Tome-se, como exemplo, a mais recente consulta popular do Datafolha – tido como o mais respeitado instituto de pesquisa do País: Lula, que está no bico do corvo, seria o vencedor em todas as simulações da eleição presidencial de 2018. No entanto, é o possível candidato com a maior rejeição popular – algo em torno de 60º%… Como explicar isso?
O parágrafo acima já estava escrito quando a “Folha de S.Paulo”, a cuja família pertence o Datafolha, veio a público tentar esclarecer que “a resposta está no grau de concordância dos brasileiros com algumas frases aplicadas pelo Datafolha para medir a tolerância da população com a corrupção na política”. Entenderam? Ninguém entendeu. Ficou pior a emenda do que o soneto.
Em resumo: vamos deixar o Michel lá onde está. Afinal, ele é a prova de que, quando o governo não atrapalha, o Brasil caminha sozinho. Célio Heitor Guimarães