Passado o centenário da Semana, o balanço mostrará que o oba-oba foi um mais do mesmo
E assim tivemos, como um vendaval, o 100º aniversário do evento que, quando aconteceu, foi só uma suave brisa: a Semana de Arte Moderna. Como de hábito, as reações a essa frase seguirão ignorando a sugestão de que se aproveitasse a efeméride para contar a história da Semana pelos documentos da época, não como ela passou a ser reescrita décadas depois. Em vão. No Brasil, de 50 anos para cá, pode-se discutir até se a Terra é oval, menos questionar a Semana.
Depois do oba-oba que rendeu muito dinheiro —os 100 anos da Semana garantiram o semestre de várias empresas—, seria razoável supor que o resto do ano servisse para discuti-la de forma objetiva e madura. Mas isso não acontecerá. O sistema que sustenta a Semana só admite o mais do mesmo, e incansavelmente repetido.
O centenário tentou consolidar a ideia de que, até 1922, o Brasil era um gigante adormecido, que Oswald e Mario de Andrade vieram despertar. Mas essa ideia não cola. Quem dormia e roncava em 1922 eram Oswald e Mario. Eles nunca tinham lido “Um Estadista do Império” (1897-99), de Joaquim Nabuco, “Os Sertões” (1902), de Euclydes da Cunha, “A América Latina, males de origem” (1903), de Manuel Bonfim, “Recordações do Escrivão Isaías Caminha” (1909), de Lima Barreto, “Vida Vertiginosa” (1911), de João do Rio, “Eu” (1912), de Augusto dos Anjos, “Rondônia” (1916), de Roquette-Pinto, e outros livros que já estavam revelando o Brasil aos brasileiros.
O Brasil já tinha também um naipe de engenheiros, astrônomos, biólogos, botânicos, matemáticos, epidemiologistas e radiologistas de que podia se orgulhar. Mas a Semana, só interessada em estética, passou longe da ciência e de outras disciplinas.
Não fez falta. A Exposição Internacional do Centenário, aberta no Rio sete meses depois —um ano em cartaz, 14 países expositores, três milhões de visitantes e o encontro concreto com a modernidade—, se encarregaria disso.