Às nove e meia entrou o mediador da sessão. Entrou, sentou à mesa, limpou a garganta e tentou ser amistoso desejando, em voz alta, um bom-dia para todos. Nenhuma resposta. Ele sorriu e abriu o livro que havia trazido. Bem, disse ele, vou ler para vocês um relato sobre motivação e convivência feito por um monge budista do século XIII. Leu com entusiasmo, mas a platéia não reagiu. Ele pareceu aprovar com leve sorriso. Ao fim da leitura, ele disse: — Alguém tem alguma observação sobre o texto, alguma crítica ou sugestão? Silêncio total, cabeças baixas, mãos fechadas e pernas enfiadas debaixo das cadeiras. Ele novamente sorriu. Pôs um vídeo de dez minutos sobre relações humanas e nenhuma reação. Mais um sorriso.
No final da sessão, sem que nada de normal — um suspiro que fosse — acontecesse, ele desejou um bom-dia a todos e preparou a retirada. Os participantes nem se mexeram nas cadeiras. Ele então disse que a sessão estava encerrada e que todos podiam se retirar. E saiu para o corredor. Depois de cinco minutos, saiu o introvertido anônimo que havia entrado por último na sala. O mediador ficou preocupado e pensou: “Esse vai dar mais trabalho, pois precisa — primeiro — aprender a conviver melhor com outros introvertidos anônimos.
*Rui Werneck de Capistrano pertence a DEA – Desassociação dos Escritores Anônimos – e escreve pra burro (não é você, calma!)