2. Em 1930, Oliver Carpentier estava tentando juntar relógio de ponto com um dos concertos para piano de Beethoven, quando sua mulher entrou em trabalho de parto. Ele largou tudo e chamou a parteira. Nasceram trigêmeos que nunca mais deram sossego para ele voltar à invenção.
3. Em 1030, numa praia do Brasil (que nem tinha esse nome ainda), um índio olhava para o horizonte e imaginava que devia haver terras lá longe. Impossível, naquele mar todo, serem eles os únicos habitantes. Durante seis meses, fez uma canoa. Conseguiu patrocínio do cacique e, depois de despedir-se da tribo, partiu. Não navegou nem quinhentos metros, naufragou e morreu.
4. Johannes Burg, intrépido alemão, muniu-se da maior paciência e da mais ferrenha perseverança e dispôs-se a inventar o moto-perpétuo. Depois de trinta anos de trabalho profícuo, quando achou que faltava apenas uma peça que encontraria a trinta milhas de sua casa, morreu.
5. William W. Wallet queria inventar o Boletim do Conselho Mundial, em 1877, porém nunca encontrou nenhuma perspectiva de aplicação para ele. Morreu pobre e esquecido na ilha de Páscoa.
6. Mesmo sendo chamado de louco por meia cidade, Douglas Teddy cismou que seria possível a geração espontânea. Anunciou que às duas horas do dia 24 de março de 1637, em plena Praça da Matriz, apareceria um sapo-cururu. No dia e hora marcados, com centenas de olhos fixos no ponto exato, apareceu realmente um batráquio. Mas não era da espécie anunciada. Na verdade, era uma rã-pimenta. Teddy foi desacreditado para sempre. E teve seu nome excluído do clube dos jogadores de truco.
7. Sam Barrell vivia com esta pergunta na cabeça: Por que não inventam um jeito de se viver para sempre? Por dia, ele a repetia mais de mil vezes. Às vezes, num lapso de tempo, pensava que podia ser o grande inventor da vida para sempre. Via-se cercado de pessoas que batiam nas suas costas, ofereciam muitos presentes, discursavam em seu louvor, erguiam brindes e bustos seus nas praças. Mas logo voltava à pergunta. Isso o levou à loucura em 1970, na cidade do Cairo.
8. J. P. Gudruph acreditava ter encontrado a fórmula para acertar nas corridas de cavalos e ter sucesso na conquista das mulheres. Havia chegado à fórmula depois de seis anos de pesquisas, mas, ao fim deles, as corridas foram banidas da sua terra e ele mesmo descobriu que não gostava tanto assim de mulher.
9. T. Weiss colocou na cabeça que a melhor forma de vida seria descobrir a maneira de não se preocupar jamais com o sucesso alheio. Conquistas, mídia, fama, spotlights, ovações, televisões, louvores… Tudo isso não teria mais lugar no seu dicionário. Jurou que queria morrer “seco e arreganhado” se voltasse a invejar os outros. Sua fórmula fez tanto sucesso que ele ficou conhecido do dia para a noi-te. Era assediado onde quer que fosse. Foi aí que se olhou no espelho e disse: Você é o máximo! Morreu seco e arreganhado.
*Rui Werneck de Capistrano é artista prático e jogador de sinuca