A crise na segurança pública é um problema tão grave quanto antigo das cidades brasileiras, mas a situação demonstra ter fugido completamente ao controle do Estado.
Não é segredo que há números da violência no Brasil compatíveis com os de uma guerra civil. Olhando friamente, o fuzilamento do grupo de médicos na orla da Barra da Tijuca é mais um entre as centenas de crimes horrorosos que engordam as estatísticas.
Eles estavam no lugar errado, na hora errada —como ocorre com milhares de brasileiros nas nossas comunidades. Inocentes mortos num campo de batalha comandado por facções criminosas que disputam territórios. Onde as forças policiais perderam, abriram mão ou nunca tiveram domínio, por razões diversas.
O diferencial é que a execução dos médicos escancarou que ninguém está seguro em lugar nenhum. O crime ocorreu em área nobre da capital fluminense —não nas periferias. Para completar, a União havia acabado de anunciar um plano emergencial de segurança para o RJ. Uma conjunção de elementos que, além da comoção, mobilizou as maiores autoridades do país.
Resta saber quando a sociedade brasileira finalmente vai despertar para o fato de que, quando o Estado renuncia à prerrogativa pública de preservação da ordem para proteção das pessoas e do patrimônio, conforme previsto na Constituição, todos ficam sujeitos ao caos e à desordem.
Se “não existe fórmula mágica, bala de prata, receita pronta para resolver o problema da segurança pública no Brasil”, como disse o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, resta claro que a solução também não está no encarceramento em massa nem no uso indiscriminado da violência.
Pensar nos fatores sociais relacionados à criminalidade e investir em políticas públicas efetivas voltadas para educação, saúde, esporte, cultura e lazer parece uma boa maneira de começar a enfrentar o problema com profundidade.