Entrei numa lista de “detratores” do governo Bolsonaro. Várias pessoas com lágrimas nos olhos me mandam os parabéns, dizendo que eu devia me sentir orgulhoso. A verdade é que o orgulho que sinto por isso não é maior do que a vergonha que sinto pela existência de uma lista como essa. Primeiro, porque o Ministério da Economia pagou quase 3 milhões de reais por uma relação de nomes elaborada em uma planilha de Excel vagabunda, com um texto ordinário que parece saído de um caderno escolar do Eduardo Bolsonaro. E segundo, porque uma lista aparentemente inofensiva como essa pode ser usada para perseguições políticas e retaliações econômicas – ou pior, para me levar a um passeio por algum porão imundo para testar o sistema elétrico do lugar.
Cada vez que ouço o Guedes falar, imagino o Lyle Lanley tentando nos vender um monotrilho. Em uma entrevista para a Globo News, acho que antes de tomar posse como ministro da Economia, disse que arrecadaria 1 trilhão de reais com a venda de imóveis do governo, que faria surgir mais 200 trilhões com a privatização de não sei o quê. Clássica conta de padeiro. Padeiro que vende o pão que o diabo amassou. Se o Brasil fosse uma start up e esse o plano de negócios fosse apresentado, não conseguiria financiamento nem do agiota da esquina. No Brasil, nosso buraco moral é sempre mais embaixo.
No relatório que leva o nome de “Mapa de Influenciadores” eles recomendam o “envio de matérias e projetos do ME e divulgação de boas práticas”. Divulgação de boas práticas? Tipo, dar bom dia para o porteiro, não enxugar o suor das axilas na toalha de rosto e jamais levar radinho à pilha para ouvir futebol durante a missa? Acho que uma boa prática seria o ministro admitir que não é bom com números e fazer vestibular para outra coisa. Agronomia, já que ele gosta de… tratores.
Bem, ao elaborar uma lista esdrúxula como essa, o governo mostra que não precisa de uma relação de detratores. Ele sabe fazer isso muito bem sozinho, e com louvores.