Deu no jornal ontem – Fábio Campana

Já disse e vou repetir. Sou, em princípio, contra toda e qualquer restrição à livre expressão de opinião. Fiz uma opção e me pauto por ela. Prefiro a liberdade. Neste caso em que a Justiça impede Requião de usar a TVE para fazer autopromoção e achincalhar os desafetos, é natural que se levante a idéia de que a liberdade de expressão de Requião está sendo usurpada. Situação que constrange a todos os libertários.

Mas é necessário entender que a liberdade a ser respeitada acima de tudo não é apenas e unicamente a do Requião. Quando a liberdade está em jogo, trata-se da liberdade de todos. A liberdade de Requião só é real e justa se for a de todos os cidadãos, o que só é possível quando a máquina do Estado é usada pelo governante transitório de forma republicana. Ou seja, com respeito às leis que determinam o seu uso por quem quer que seja.

Instituições políticas bem equilibradas e firmes são necessárias porque os chefes de governo não podem ser sempre invariavelmente bons, competentes e justos. Na verdade, a democracia não pretende garantir a escolha invariável de bons governantes; ela apenas torna os maus menos desastrosos e fornece à sociedade os meios para defender-se eficazmente deles. Eis aí, num Paraná como o nosso, o que devia bastar para fazer burgueses, operários, intelectuais, padres, jornalistas, juízes e políticos pensarem duas vezes, em vez de não pensarem nenhuma.

Quando Requião usa a TV Educativa, um instrumento do Estado, para subordinar e desmoralizar as demais instituições democráticas, ele destrói pressupostos fundamentais para a sobrevivência de condições mínimas de vida democrática.

Quando Requião usa a TV Educativa como instrumento pessoal para atacar, denegrir, destruir a respeitabilidade alheia, restringe a liberdade de todos. Não se pode, afinal, em nome da liberdade do déspota, cassar a liberdade de todos e permitir que ele diminua a liberdade que é o bem mais importante.

Uma inapreciável vantagem da democracia é a sua capacidade de proteger o governo de si próprio e a sociedade dos governos que podem lhe causar prejuízos. Pressões, impulsos cesaristas e, até, eventuais instabilidades emocionais do chefe, tudo isso deve esbarrar no anteparo das instituições, prender-se em suas malhas e acabar suscitando forças contrárias que tendem a devolver algum equilíbrio à nau do estado.

É o que a Justiça fez neste caso em que impede Requião de usar a TV Educativa para atentar contra as instituições democráticas. De resto, Requião não está sob censura. Continua em liberdade para dizer o que quiser. Só não pode usar o Estado, o erário e seus meios para a sua guerra pessoal contra a democracia.

Fábio Campana (23/1/2008) OEstado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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