© João Bittar
Todos amamos o Lula, como os ingleses amam a sua rainha. “God save the Queen”. Tem tudo o que nós gostamos: sinceridade, simplicidade, imensa experiência de vida, honradez pessoal, disposição para a luta, boas, boníssimas intenções. Poderia ir até o fim desta crônica citando suas qualidades e certamente ficariam faltando algumas.
Mas vamos e venhamos: até agora não demonstrou qualquer aptidão para exercer um cargo executivo, já não se fala da Presidência da República, que constitui a ponta da pirâmide, mas nem mesmo de cargos secundários que requisitem, além de todas as excelentes qualidades que possui, uma tarimba especial para não só navegar entre os abrolhos da política, mas para exercer de fato um conhecimento da máquina administrativa de um país com as complexidades do Brasil.
Até agora, é bom acentuar, ele não abandonou o palanque que o consagrou como o mais sincero e honesto opositor de tudo o que há de errado no governo e na sociedade. Evidente que não se cobrará dele uma sabedoria profunda de economia, relações internacionais, saúde, transportes, educação etc.
Tive um amigo, empresário com mais de 5 mil funcionários, que sempre perguntava quando um candidato presidencial lhe pedia auxílio para a campanha eleitoral: “Quantas chaminés o senhor já teve?”.
É uma fórmula simplista de questionar a vivência de alguém que vai manipular orçamentos gigantescos, lidar com milhões de funcionários, moderar conflitos de produção e relacionamento entre tantas classes divergentes que compõem uma Nação.
Neste particular, Lula tem dado provas negativas de sua capacidade administrativa. Cobra dos outros a garra e a boa vontade que ele tem de sobra. Quando diz, por exemplo, que tudo está errado, que consertará tudo em quatro anos, dá prova de um messianismo que nem mesmo a Rainha da Inglaterra nunca se atribuiu.
Carlos Heitor Cony – Jornal do Commercio (Rio de Janeiro – RJ), 1/07/2003