As perspectivas não são boas. A variante que surgiu em Manaus vai aparecendo em vários pontos do país. Em Araraquara foram encontrados 12 casos. A cidade entrou em lockdown e, certamente, o problema vai afetar as áreas vizinhas.
O prefeito de Araraquara disse que, de uma forma empírica, constatou que a variante é mais agressiva e, certamente mais contagiosa, pois o número de contaminados por lá subiu muito. Na entrevista que ouvi, ele fala também das dificuldades de produzir oxigênio emquantidade necessária e lembra que isso pode vir a ser um problema nacional.
Triste ver como os mesmos dramas de Manaus podem ser repetir caso as autoridades não se toquem. Nova variante, mais gente internada nos hospitais, mais necessidade de oxigênio. Hoje fui chamado a falar sobre aglomerações. Acho inútil repreender as pessoas. Melhor seria tentar entender porque agem assim.
Os brasileiros não se comportam como os japoneses. Nem se tivessem um século para ensaiar, conseguiriam fazer o mesmo. São situações culturais diferentes, desenvolvidas ao longo de milênios. No entanto, podemos melhorar nosso comportamento coletivo.
Acho que em certos lugares, como em alguns morros do Rio e em Paraisópolis, São Paulo, houve um esforço de atuar em conjunto de estabelecer as bases de uma nova solidariedade. No meu entender, os brasileiros relutam em se comportar como cidadãos porque não conhecem todos os benefícios dessa categoria.
Olham para cima e vêem apenas individuos. O presidente da Republica nega a pandemia, rejeita máscara, promove aglomerações e duvida da vacina. Governadores de vários estados foram acusados de desviar dinheiro na compra de respiradores e montagem de hospitais de campanha. O governador do Rio, Wilson Witzel caiu.
De vários pontos do país surgem relatos de gente furando fila no processo de vacinação, quase sempre gente poderosa, dos governos municipais ou ligados a eles. Recentemente, surge a história das vacinas de vento, funcionários que fingem que aplicam a vacina e talvez nem apertem o êmbolo.
Se a situação fosse diferente, se o exemplo de cima fosse inspirador se houvesse uma tentativa real de melhorar a vida das pessoas durante a pandemia, o diálogo seria mais fluido. Muitos lugares poderiam ter recebido água potável em caminhões pipa. Temos a capacidade de fazer isto no Nordeste, atendendo a quatro milhões de pessoas. Muitos hoteis poderiam ter sido alugados para alojar pessoas em quarentena, sobretudo aquelas que vivem em espaços contiguous com muitos membros da familia.
O próprio transporte coletivo teria de ser revisto de ponta a ponta, com mais opções. Enfim não somos o que somos porque não houve uma tentativa real de alterar esse quadro. Restam as iniciativas de baixo para cima, foram a que nos salvaram no período mais difícil.
Acabo de receber a mensa da Cufa, Central Única das Favelas, que lançará a campanha de doação de sangue, Ajudar está no sangue. As aglomerações são apenas um lado da nossa realidade que poderia ser transformado se houvesse uma transformação lá em cima, de onde brotam maus exemplos.