No auge da epidemia de AIDs, na França, aconteceu um episódio que deveria ser conhecido no Brasil.
Foi no meio década de 80: um laboratório americano chamado Abbot descobriu um método para detectar a presença da AIDS no sangue e pediu autorização para lançá-lo na França.
Já atingida pela epidemia de AIDS, a França estava pesquisando um método semelhante no Instituto Pasteur. Ao invés de autorizar o uso do método o mais rapidamente para salvar vidas, o pedido foi burocraticamente empurrado com a barriga.
Quando isso ficou claro, houve um grande escândalo no país. As famílias dos hemofílicos, diretamente interessadas se revoltaram contra a decisão do governo, que, no fundo, queria ter a primazia no uso dos exames.
Isso aconteceu, como disse, no meio da década de 80 e só em 92 os culpados foram julgados e condenados. Dois dirigentes do Centro Nacional de Transfusão de Sangue, Michel Garreta e Jean Pierre Alain foram condenados a quatro e dois anos de prisão fechada.
A Anvisa hoje está em guerra contra a Coronovac, que veio da China e será produzida pelo Instituto Butantã.
Assim como o exame de AIDs era essencial para salvar vidas, a vacina precisa ser usada o mais rápido possível, respeitadas as condições de segurança e eficácia.
A nota da Anvisa questionando a Coronavac utiliza argumentos geopolíticos e afirma que os países produtores podem dar preferência aos seus interesses nacionais.
Não vejo nada perigoso aí. São Paulo já comprou 45 milhões de doses e parte do material está no Butantã que o processa num regime de trabalho de 24 horas por dia.
Há mais vacinas no mundo e o ideal é apostar em várias possibilidades. O governo federal apostou apenas na Oxford Astrazenica.
Países como o Canadá já tem encomendadas cerca de 10 doses para cada habitante. Um exagero, sem dúvida.
Lembro-me dos tempos de corrida de cavalo e quando apostava num cavalo, a primeira que examinava era o seu retrospecto. A Pfizer tinha mais experiência na produção de vacinas e deveria ter sido incluída na lista dos fornecedores desde o meio do ano.
O governo ficou assustado com a temperatura de 70 graus negativos. Mas a própria empresa descobriu uma embalagem de gelo seco que atenua este problema.
Tanto esse general Pazuello como seu chefe, Bolsonaro, não estavam empenhados em vacina. A prova final desse desinteresse é a tendência atual de Bolsonaro de obrigar os vacinados a assinarem um termo de responsabilidade.
Ele quer tirar o bumbum da seringa. Nenhum estadista no mundo fez isso. Pelo contrário, a começar pela Rainha da Inglaterra, todos vão tomar a vacina para incentivar o seu povo.
São posições diferentes diante da ciência. Tocou-nos o obscurantismo.