No início da semana, surge essa história no UOL, uma ex-cunhada de Bolsonaro retomando o tema das rachadinhas e dizendo o que muitos suspeitavam: o próprio Bolsonaro criou o sistema para uso de seus familiares com mandato.
Os dias não devem ser amenos para ele. Muita gente romantiza o poder mas a verdade é que, nessas circunstâncias, as pessoas enfrentam terremotos. Lembram-se daquele célebre desabafo: minha vida aqui é uma desgraça…? Ele reclamava da sucessão de problemas, dizia que não podia sair na rua e tomar um caldo de cana.
Vai ficar cada vez pior, na medida em que cresça o movimento pelo impeachment e surjam novas revelações na CPI. Sua base de apoio, o chamado Centrão, é conhecido como volátil, mobile como uma pluma ao vento”.
Interessante notar como há militares citados nessas complicações de compra de vacinas. Isso também está repercutindo entre os parlamentares. O Centrão sempre foi alvo de críticas duras. Agora ele vê os militares como rivais na disputa de cargos e na trama de negociatas.
É o coração das trevas? Um leitor me perguntou se estamos no coração das trevas. O tema foi mencionado por mim, citando o livro de Joseph Conrad inspirado na sua passagem pelo Congo. Pelo que estou lendo sobre o Congo dominado pelos belgas, nossa situação é menos desconfortável. Os belgas castravam e cortavam as mãos de trabalhadores relutantes.
Raul Jungmann, o ex-ministro da Segurança Pública, usou o termo “coração das trevas “para designar o Rio de Janeiro. Sua ideia era a de que o crime organizado tinha se infiltrado na política e está se tornando difícil dissociá-los.
Referia-se também ao poder das milícias que controlam território e não permitem que a democracia funcione: candidatos independentes não podem entrar na área que as milícias dominam.
Essa associação de crime e poder, milícia e governo, desmatadores e burocratas, picaretas e material básico de saúde, ela nos aproxima do coração das trevas, mas há muito o que fazer para evitar que cheguemos lá. 5|7|2021