Mais um dia diante da tevê, desta vez para acompanhar o depoimento do ex-chefe do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias. Ele foi acusado de pedir a propina de um dólar por dose de vacina. O vendedor era Luiz Paulo Dominguetti, um cabo da PM de Minas que oferecia 400 milhões de doses da Astrazeneca
Dias confirma o jantar com Dominguetti mas nega o pedido de propina. Mas por Dominguetti apareceu de repente trazido pelo coronel Mauricio Blanco? Segundo ele, o coronel foi seu auxiliar no Ministério da Saúde e sabia que ele estava tomando um chope no Restaurante Vasto. Sabia como? Roberto Dias afirma que talvez tenha comentado que iria tomar chope ali. Não se sentiu invadido e apenas marcou uma reunião com Domingueti no dia seguinte.
História complicada. Como acreditar que uma pessoa possa ter 400 milhões de doses de vacina? Não haveria uma quebra de privacidade do coronel ao aparecer com um vendedor na hora do chope?
A verdade dos fatos é que uma portaria do Ministério da Saúde dizia que o tema compra de vacina estava concentrado apenas na secretaria executiva. Por que Dias, que teoricamente não era responsável, alongou a conversa? Não está muito claro.
Esse grupo que venderia 400 milhões de vacinas é integrado por coronéis, um reverendo e o cabo da PM, Domingueti. Foram recebidos também pelo secretário Executivo. Combinam dois elementos muito caros ao governo Bolsonaro: evangélicos e militares. É uma confusão da nova corte de Brasília. Cada governo que entra leva consigo uma nova corte. O de agora é cheio de militares e reverendos. A propina é eterna: 10 por cento no passado, um dólar por dose, parece que mudam apenas os detalhes.
A variante Delta foi encontrada também no Paraná. A cada dia, aparece num lugar diferente. Temo que já esteja muito mais disseminada do que as pesquisas registraram até agora. Uma história incrível e mais cinematográfica do que a chanchada das vacinas: a viúva do miliciano Adriano da Nóbrega, que morreu na Bahia, casou-se de novo, dessa vez com um empresário. Tudo indica que o empresário era sócio do miliciano e agora casa-se em comunhão de bens com a viúva, o que é uma forma de honrar suas dívidas.
Fora daqui, a noticia mais importante foi a do assassinato do presidente do Haiti, Jovenel Moise. Homens armados invadiram sua casa e, além de matar o presidente, feriram a primeira dama.
Estive duas vezes no Haiti. Numa delas para assistir à primeira eleição presidencial, depois da presença das tropas da ONU. É um país muito pobre que logo em seguida seria arrasado por um terremoto.
Grande parte das pessoas no Haiti perambulava pelas ruas tentando vender alguma coisa. Visitei algumas favelas, como Cité Soleil. Às vezes à noite, ouvi tiros e lembrei do Rio pois moro perto de um morro. Li sobre a história do Haiti e chegando ao Brasil comprei um livro básico: A história dos Vingadores do Novo Mundo, de Laurent Dubois. Nele, como em todos os outros relatos, sobressai a figura do grande rebelde e general haitiano Toussaint Louverture.
Quanto à história recente do Haiti, minha referência foi o amigo Ricardo Seitenfus, um apaixonado e grande conhecedor do país. Tive a honra de escrever o prefácio para a edição brasileira de seu livro O fracasso da Ajuda Humanitária do Haiti.
Seitenfus denunciou seriamente uma das grandes tragédias, entre as muitas, da história do Haiti: a epidemia de cólera, infelizmente introduzida no país, pelas tropas da ONU. Estou esperando uma análise dele, para entender o que se passa no Haiti neste momento tão estranho.