A ideia é que as pessoas usem a internet e linhas telefônicas para serem atendidas.
Ao invés de agências físicas, contrata-se uma central de atendimento com pessoal terceirizado que possui parcos conhecimentos e não domina os assuntos do negócio. Há uma grande demora nesses atendimentos – e os custos são transferidos para os consumidores que gastam suas internets e desperdiçam tempo valioso.
Por outro lado, há uma sensível redução de custos dos bancos, que seguem impunes aos olhos desatentos do Banco Central e dos órgãos de defesa dos consumidores.
Resumindo: tudo passa a ser virtual – e os consumidores que se danem.
Há relatos de clientes que esperaram por três horas para serem atendidos numa agência do Bradesco em Amambai (MS), segundo informa o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDEC. Existe punição pelo tempo de espera em filas em favor dos consumidores. Na prática, ninguém reclama e a fiscalização é omissa.
Algumas empresas possuem centrais telefônicas, cujos clientes devem digitar interminavelmente números e senhas e opções. Quando o consumidor consegue ser atendido, o atendente é mais perdido que cachorro que caiu do caminhão de mudança.
O calvário de enfrentar páginas da internet ou centrais telefônicas tornou-se comum para milhões de clientes que não têm a quem recorrer para resolver questões simples e objetivas. Na verdade, o atendimento online não consegue resolver problemas mais complexos e graves e quem mais sofre são os vulneráveis que não têm como acessar a internet ou dispor de tempo para ficar em intermináveis ligações telefônicas.
E quem não tem e-mail ou aparelho celular, como é que faz?
O mundo digital causa exclusões invisíveis, como a dos idosos, dos especiais, dos sem computador e tantos segmentos que necessitam de atendimento presencial em agências físicas e não virtuais. Do outro lado, junto aos bancos e empresas, há o crescimento das demissões e a precarização dos postos de trabalho.
A defasagem do direito do consumidor no Brasil cobra seu preço. O tempo maior para as pessoas resolverem seus problemas e o sucateamento do atendimento, com custos que são pagos pelos próprios clientes. Cada minuto na fila, na espera do telefone ou na internet aumenta os lucros dos bancos e das empresas com a redução da folha de pessoal e dos custos da sede física.
Em muitos casos o sistema de atendimento dos consumidores incorpora essa lógica online, e quem paga a conta são os consumidores do final da fila.