Veja agora esse time: João Gilberto, violão; João Donato, piano; Tião Neto, contrabaixo; Milton Banana, bateria. Só em sonho? Não. Em 1963, eles tocaram por três meses em Viareggio, no sul da Itália. Alguma noite terá sido gravada? Se sim, onde estão as fitas? Se não, por que um estúdio de Roma não teve essa ideia? Porque aquilo era normal, a grande música abundava. Eles nunca mais se viram num palco —nem mesmo João Gilberto e Donato, que levaram a vida se encontrando para queimar um e discutir filosofia.
Francisco Alves e Mario Reis, Tom Jobim e Dorival Caymmi, Leny Andrade e Pery Ribeiro, Doris Monteiro e Lucio Alves, Dick Farney e Claudette Soares, Chico Buarque e Maria Bethânia, todos um dia dividiram um microfone, e com históricos resultados —confira na internet. Por que Emilinha Borba e Marlene, Orlandivo e Jorge Ben, Nelson Cavaquinho e Cartola, Simonal e Elza Soares, Tim Maia e Rita Lee, tão compatíveis, nunca fizeram o mesmo? Porque ninguém pensou nisso.
Os americanos não deixavam passar. Frank Sinatra gravou com Bing Crosby, Louis Armstrong com Ella Fitzgerald, Doris Day com Harry James, Duke Ellington com Charles Mingus, Miles Davis com John Coltrane. Nenhum deles saiu menor desse encontro. Só a música saiu maior.
Mas ainda temos uma chance. Hoje pode-se juntar post mortem quem se queira, eletronicamente.