Todos esperavam o confronto Álvaro Dias– Sérgio Moro. Foi como a batalha de Itararé: não houve. Álvaro mandou o marqueteiro nos avisar que “jogaria parado” – o senador tem rompantes de quase gênio. Moro não avisou nada, nem precisava, ele vive poluções adolescentes com Jair Bolsonaro; o resultado é o mesmo: sujo e molhado. O confronto entre os dois deu em contraponto: se Álvaro jogou parado, Moro jogou imóvel. Álvaro vai vencer, aquilo de o menos ruim, que o senador só engana os que acreditam nele há duzentos anos. Continua com a voz impostada – impostar lembra impostor -, sempre a suspeita, não do rei na barriga, mas do ventríloquo no bucho.
Nada disse de relevante, porque ele só conhece o irrelevante, o superficial, o fugidio, o fogo-fátuo da frase feita. Relevante para Álvaro Dias só ele, um defeito comum aos políticos, para quem o povo é como o gado de Geraldo Vandré. Nem se pode dizer que no ar de superioridade com que exibia os duzentos anos de política revelou sua aptidão para o Senado. Álvaro é como Sílvio Caldas, o seresteiro que prometeu aposentadoria e viveu uma década rifando a mesma viola. Os candidatos se dividiram entre os que causavam desprezo e os que provocavam pena – com a honrosa exceção de Rosane Ferreira, um bálsamo para a consciência cívica, que merece um post e milhares de votos.
O debate transcorreu entre os que se dispõem a servir Bolsonaro e os que se dispõem a servir Lula – secundum eventum litis, a depender de quem vencer, pois o Centrão está aí para arrebanhar os réprobos. Para o Insulto uma surpresa, não a melhor, apenas surpresa, e irrelevante: Orlando Pessutti, vocação perdida para o rádio de província. Voz poderosa, bem projetada, dicção perfeita, sotaque gaúcho depurado pelo leite quente. Ex-governador e orgulhoso conselheiro de Itaipu, Pessutti gozou com a Itaipu alheia, prometendo mundos e fundos com o dinheiro da represa caso eleito. Pessutti seria o perfeito suplente de Maurício Fruet, seduzindo eleitoras como cover de Wando.
Paulo Martins é deputado eleito pela TV Massa e defensor de Bolsonaro. Et tollitur quaestio, assunto encerrado. Até agora não tratei dos temas do debate. Perdão, o debate não teve temas. Com perdão do péssimo trocadilho, foi um anátema. Puxou-se o tema da ponte de Guaratuba. Neste ponto Álvaro e Pessutti mentiram. Álvaro com meia verdade, que em seu governo licitou mas não pode construir a ponte porque não foi reeleito; meia verdade traz mentira: ele disse que seu governo incluiu a previsão da ponte na constituição de 1989. Aí, não, eu estava por perto. Arrolo de testemunha Wágner Pacheco, secretário da Casa Civil de Álvaro. Wágner limpou boa parte das mutretas embutidas na constituição.
Quem fez e desfez na constituinte de 1989 foi Aníbal Khury, presidente da assembleia, que torpedeava o governador Álvaro Dias por todos os lados. Vá-lá, meia verdade e meia mentira é o tropo, o leit motiv de Álvaro. Pessutti foi governador nove meses, depois do último governo Roberto Requião. Não tinha muita voz no orçamento para incluir a ponte. Mas sua voz é suficientemente enganadora para prometer a ponte como senador – e como conselheiro de Itaipu, como se senador pudesse ser conselheiro de Itaipu. Cosi fanno i bugiardi, assim sempre os mentirosos. O debate dos senadores foi um convite ao voto nulo. Para acalmar nosso espírito existe Rosane Ferreira. E Lula.