Distribuidores de penico

Era um caminhão de carroceria alta, gradeada, sem lona para mostrar a carga: penicos, apenas e exclusivamente penicos!

Eu acabara de visitar, a serviço da Agência Estado, o jornal da Família Collor em Maceió (AL) e ao sair do prédio, em companhia de um dos editores, topei com o caminhão estacionado ao lado do meu carro.

Ao perceber minha cara de espanto ao observar aquela carga inusitada, o editor explicou:

– O patrão está em campanha para o Senado e essa carga faz furor no agreste, para onde esse caminhão seguirá daqui a pouco…

O patrão, claro, era Fernando Collor de Mello que concorria a um cargo eletivo pela primeira vez após a renúncia. Deve ter faltado penico, porque daquela vez não se elegeu!

EM BRASÍLIA

A imagem me persegue deste então: homens engravatados chegando a Brasília para ocupar cargos na Câmara, no Senado, nos gabinetes e palácios após uma farta distribuição de penicos nos grotões nordestinos.

Como são poderosos esses distribuidores de penico: nos últimos 30 anos, três deles ocuparam a presidência da República; nos últimos 15 anos, dois deles ocuparam a presidência do Senado e dois deles – um presidente da República e um presidente do Senado – afrontaram o STF.

E como são corruptos ! Quase todos os escândalos que abalaram a república brasileira nos últimos 40 anos, desde o famoso Escândalo da Mandioca, passando pelos Anões do Orçamento, pelo assalto à Petrobras, pela roubalheira na Odebrecht (nascida na Bahia), tem sempre um distribuidor de penico na coordenação e um punhado deles na rapinagem…

O sujeito que escondeu dinheiro na cueca deve ter distribuído muito penico no Ceará e o sujeito que lotou um apartamento de malas de dinheiro distribuía penicos na Bahia…

GRANDE UTILIDADE

O penico é um objeto muito útil para as famílias do Agreste que ainda não foram apresentadas a um vaso sanitário. O triste é ver que, a depender da maioria dos políticos nordestinos, nunca serão apresentadas…

Em outra viagem ao Nordeste, no final dos 1990, então pelo jornal Gazeta Mercantil, sou informado que no sertão cearense, os políticos boicotam a abertura de poços artesianos em regiões promissoras, pois sabem que água farta é sinônimo de prosperidade e liberdade…e seca sempre foi sinônimo de miséria e submissão…

Em outras palavras, a água e fartura são parceiras do vaso sanitário e seca e miséria, parceiras do penico….Enquanto o vaso sanitário liberta, o penico oprime e escraviza…

UM SÍMBOLO DA QUALIDADE

Não, não podemos dizer que o penico seja um símbolo da população nordestina…o penico é sim um símbolo da qualidade da maioria dos políticos nordestinos…

Nessa batalha campal pela reforma da Previdência, o Brasil que deseja o fim do desemprego e a retomada do desenvolvimento tropeça a todo instante nos penicos nordestinos….

Foram eles que barraram até agora a inclusão de estados e municípios na Reforma…eles não querem reformar nada, pois estão satisfeitos com o estado calamitoso das contas públicas e sabem que em última instância a União os socorrerá…

E quando surge um presidente que resolve afrontá-los, protestam, ameaçam, fazem cara feia e beicinho….Têm saudade de Lula e Dilma, por certo…

Neste instante, o distribuidor de penico que se elegeu governador da Bahia ameaça boicotar a votação do segundo turno da reforma da previdência em represália ao discurso “ofensivo” de Bolsonaro ao povo nordestino…

Distribuir penico deve fazer mal ao caráter que nunca tiveram!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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