Rebello entende que Portugal deve pagá-la, mas não diz qual, nem como. Ele pensa no tratamento escracho dispensado aos brasileiros que migram para Portugal, lá tratados como lixo, discriminados social e economicamente. Sabe que isso não resolve, pois fala do velho e forte preconceito do país colonizador contra os colonizados que aportam à metrópole. Conheci isso em 1975, logo em seguida à Revolução dos Cravos. Naquela época, os brasileiros que aportavam a Portugal eram diferentes dos que hoje lá vivem, residentes e trabalhadores; em 1975 fugia-se da ditadura brasileira; nos anos 2000 foge-se da miséria brasileira; em 1975 os brasileiros chegavam na terrinha, graduados e doutorados; agora chegam como trabalhadores de baixa extração, pobres – e com o labéu da cor entre o pardo e o seminegro, feito os imigrantes ilegais latino americanos nos EUA.
O preconceito não se elimina por decreto, nem ordem judicial e delegado de polícia esclarecido têm força contra ele, seja no Brasil ou em Portugal. Então é melhor pensar na verdadeira dívida histórica, a do ouro, que daqui foi extraído para pagar a proteção que Portugal recebia da Inglaterra, na qual despejava o metal para pagar o luxo e o consumo da nobreza portuguesa. Essa a dívida real, impagável. Primeiro, porque nenhum país colonizador ressarce com ouro o ouro que apropriou em séculos de dominação. Segundo, porque Portugal, por melhor que esteja, não tem ouro para tanto; tivesse, é moeda carimbada para as transações internacionais. O presidente não teme o ouro que os portugueses devem, mas o ouro que os brasileiros o brasileiros estão a tirar de Portugal – para usar a prosódia lusitana, que privilegia o particípio ao invés do gerúndio, este uma dívida dos brasileiros com os africanos.