Ainda por conta da reclusão forçada, nada melhor do que recorrer a certos livros. Depois de ler o Plural, é claro. Assim sendo, um amigo (voltou) a curtir o humor ácido do cartunista Belmonte. Ele mesmo, Benedito Bastos Barreto (1896 – 1947), o criador do Juca Pato.
Belmonte, Editora Três Estrelas, com organização e apresentação do jornalista Gonçalo Junior, estava ao lado de A Revolução dos Bichos, de George Orwell (pseudônimo de Eric Arthur Blair, 1903-1950, nascido na Índia e educado na Inglaterra). Ele aliás, escreveu um prefácio sobre a liberdade de imprensa. Liberdade de imprensa? Não saiu publicado.
O verdadeiro inimigo
O original datilografado só foi encontrado anos mais tarde. Nele, Orwell, o autor de 1984, aponta que “o inimigo é a mentalidade de gramofone, concordemos ou não com o disco que está tocando agora”. Apesar da aposentadoria do (instrumento) gramofone, Orwell continua atualíssimo.
E, também, Foi-se o Martelo – A História do Comunismo Contada em Piadas, de Ben Lewis, lançado por nossas bandas pela Record. Neste, inclusive, temos que Stalin recorreu ao humor (dele) para tentar popularizar o regime. Depois, é claro, viu-se forçado a despachar para a Sibéria quem fazia piadas contra ele. Em 1953, quando Stalin bateu as botas, havia 2,5 milhões de presos no Gulag – quase 200 mil por contarem piadas. Que, é claro, não agradaram os donos do poder. Gulag era uma rede de campos de concentração.
No início, pipocavam denúncias por escrito às autoridades superiores com o teor das piadas. Assim, mais gente tinha acesso ao anedotário e se encarregava de passar adiante a “cultura cômica do mundo comunista, em torno de filas, escassez de alimentos, burocracia, culto da personalidade” e etc.
Livros de primeira – e vale citar Millôr Fernandes:
– Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos.