Quanto à direção, todo homem pode, basicamente, andar em qualquer direção. Para definir o próximo passo ou evitar desorientação na locomoção, não custa lembrar alguns rumos: você pode desde a esmo, pra lá e pra cá, até andar reto, pra frente ou pra trás. Só aí você já tem dois sentidos contrários, o que contraria o imperativo sem retorno ou o recuo compulsório. Quer dizer, espaço suficiente pra alternar atos de bravura, de firme determinaçăo e até de demonstrações de prudência.
Pros lados: aqui estăo imensas possibilidades, que alargam os horizontes laterais (não estranhe: horizontes ainda têm 360º ). Da esquerda à direita, e vice-versa, a vastidão não é só ideológica: sua porção-siri pode explorar territórios nunca dantes percorridos!
E a rosa dos ventos, completa, oferece inúmeras alternativas, desde os pontos cardeais norte, sul, leste e oeste, até os pontos colaterais e os sub-colaterais. Por eles você se espalha como andarilho de km ou peregrino a metro, em infinitas rotas.
Pra cima e pra baixo: subindo por onde se desce ou invertendo o lance, com certeza se chega além de onde se partiu; e de costas, se alcança aquém daí. Pro alto e pro fundo: é quase a mesma situação anterior, um pouco melhor explorada. E você vai acolá ou mais longe simplesmente ao selecionar advérbios de lugar.
Pra dentro e pra fora: aqui você se desloca com preposições, E não há nada que o mantenha encerrado ou barrado em portas se a linguagem é sua. Em círculos: é doidice gastar esse tipo de pernada, mas eu não seria doido de excluir a expansão da sua experiência libertária.
Quanto à posição, você pode andar de todo jeito, conforme a dignidade exige ou a mediocridade aceite: ereto, curvado, agachado, de quatro, engatinhando. Se você não é cartesiano, siga em zigue-zague, em curvas, sinuosamente. Perpendicular ao meio-fio ou em diagonal às calçadas também permitem de exibição da capacidade de fugir às normas.
Quanto à velocidade, experimente a variedade à disposição: depressa, rápido, calmo, devagar, lentamente. Você pode trotar, marchar e acelerar e correr, pular, saltar; tudo isso são modos de vencer a inércia, cê sabe.
Todos estes exercícios do livre-arbítrio têm áreas próprias e até as impróprias servem se você não é servil: de assoalhos a chão batido, de tacos a tábuas, de carpetes a tapetes, de asfalto a paralelepípedos, e um etc que não acaba mais.
Quanto ao nível da sua caminhada ou passeio, depende do trajeto, se seu roteiro passa pela campanha ou pelos Andes. Entre aclives e declives, você encontrará planos e planícies, ladeiras pra riba e lombas abaixo. Você decide.
Quanto à paisagem urbana, você pode se meter por ruas, vias, vielas, avenidas, becos, alamedas, perimetrais, bulevares, free-ways, pistas, calçadas, calçadões, praças, parques, ágoras (não pra quem tem agorafobia), pátios, quintais e, quem diria?, o box do seu WC.
Não tá entendendo nada? Não sabe pra onde vai este texto? Ora, caro internauta, o Brasil tá na mesma situação – imobilizado por um marasmo político – e você espera logo de mim alguma saída dinâmica? Bão, o que me ocorre é: se os membros superiores do Congresso e do Governo não se movem, quem sabe nossos membros inferiores possam sair por aí?