de SP passa também amanhã no canal TCM
Atração da atual Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o longa- metragem “Brando”, de Leslie Greif e Mimi Freedman, encontra na televisão o seu veículo mais adequado. É o típico documentário biográfico televisivo americano, com tudo o que isso implica de bom e de ruim.
De bom: a impressionante riqueza documental, as entrevistas com personagens relevantes. De ruim: o formato convencionalmente quadrado, o tom chapa-branca, a construção romântica da figura do biografado. No caso de Marlon Brando, não é preciso muito esforço para atingir o sensacional. Desde a sua aparição explosiva nos palcos e nas telas, na virada da década de 40 para a de 50, sua arte e sua vida não cessaram de produzir assombros.
Até nos períodos de inatividade o ator era notícia, alimentando com seu silêncio os boatos, os mistérios, o mito. Além de exibir cenas de clássicos como “Sindicato de Ladrões”, “O Poderoso Chefão” e “O Último Tango em Paris”, o documentário oscila entre três frentes: os dramas pessoais (os vários romances, o refúgio no Taiti, a filha que se suicidou); a discussão do que constitui a especificidade de Brando como ator no teatro e no cinema mundiais; sua ativa militância como homem público.
Desfeita
Neste último terreno, há imagens preciosas de Brando ao lado de Martin Luther King em manifestações anti-racistas e depoimentos contundentes que deu à televisão, além da célebre “desfeita” que fez à Academia, ao mandar uma índia em seu lugar para recusar seu segundo Oscar (por “O Poderoso Chefão”).
No que se refere à arte inigualável de Brando como ator, há depoimentos novos e antigos de personalidades relevantes que vão de Laurence Olivier (“Adoro Brando”) a Johnny Depp, de Martin Scorsese a Bernardo Bertolucci, de Jane Fonda a Sean Penn.
No entanto, de um modo geral, eles se limitam a externar a sua admiração pelo ídolo e o impacto que este lhes causou, em vez de analisar seu estilo e seus recursos. Talvez seja difícil mesmo falar com distanciamento de um mito ainda tão vivo.
(JOSÉ GERALDO COUTO) Colunista da Folha – Enviado por Iara Teixeira.