Dona Zefa

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Foto de Misquici

Tinha três filhos. Um deles reencontrou um dia nas ruas do Rio de Janeiro, depois de nascer no mesmo dia e no mesmo ano, vizinhos de sítio, lá em Palmeira dos Índios, Alagoas. Era nosso pai, o Zé Luis, que a Zefa chamava de “Filhinho”. Dela eu e Ricardo Silva herdamos a sensibilidade para olhar o que nos cerca. Dela ganhei o espírito e a rapidez repentista, pois era craque em disparar uma frase de humor saudável ou venenoso diante de uma situação ou frase que ouvia. Todos aprendemos com sua tenacidade e tentamos ter um pingo da paciência que teve com seus três filhos que, por alguns períodos da vida, estiveram no inferno do alcoolismo. Zefinha era amor em forma de gente, mesmo sem ter aprendido a demonstrar isso com carinho explícito ou em palavras. Tenho um tesouro guardado e achado depois que ela se foi. Uma carta que mandei, datilografada em laudas da Editora Abril onde trabalhava. Ali, no começo da minha sobriedade, logo depois de ter saído do terceiro internamento, agradeci a ela e seu marido/filho/meu pai, tudo o que tinham me dado, inclusive a força que descobri ter para seguir a vida. Pois ao encontrar o texto, com o papel amarelecido pelo tempo, estava lá escrito, a caneta esferográfica, em letras em forma de garranchos em cima das letrinhas certinhas: te amo. Ela e seu Filhinho são meus protetores e que me dão força nos momentos mais difíceis e complicados. Estão aqui dentro e também em fotos ao meu lado e que me acompanham sempre nas viagens que faço. Eu olho para eles – e pronto. É o que me basta.  Zé Beto

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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