Cigarras e vagalumes valiam por um zoológico. Alguns mistérios profundos se agitavam no varal das roupas íntimas. Meu lampião de Alexandria rendia um livro velho e uma nuvem de picumã a cada ¼ litro de querosene. Das tantas maneiras de um temporal se armar, me encharquei em todas e de algumas ainda estou úmido. Valos e valetas estavam no mapa, uma cartografia de sombras e profundidades inesquecíveis. As penugens pelo corpo, arrepios novos, sem nenhum sopro ao redor. Terrenos baldios convidativos e quintais fechados tentadores.
A gente corria; correrias por besteiras, por cachorro louco, por chamado de mãe, e correrias sem pressa, pra matar o tempo que tanto sobrava. Fiapo de grama na boca, mão no bolso, um crescendo na imaginação. Tamancos lá longe e a adivinhação da pessoa: homem, mulher, guria – guria! O azul do céu não saía do céu, a não ser que já fosse outra estação. O grude das pandorgas preteando nas mãos, e o garrão encardido por falta de banho.
Um teco-teco no ar e sua chuva de papelzinho, um alarido em meio ao mormaço. Poços fundos, sempre poços, nunca torneiras nas casas. E bicas de rua, secas e ardentes, resfolegantes. E tempo livre para relembrar o distante verão anterior, ou o inverno passado, ninguém nem lembrava deles direito, tanto tempo já passara. Galos cantavam, como cantavam os galos. O rio criava marolas ao redor dos jatos das nossas mijadas. Mamoneiros eram uma amazônia aqui e ali. Havia purgantes e piolhos, neocid pra uns, rícino pra outros.
Guirlandas de cascas de laranja-de-umbigo adornando o rés de muros… Sei, doutor, divago. Mas, pela primavera antecipada aí nas árvores da cidade, a natureza também.