É Agora!

A minha alegria atravessou o mar / E ancorou na passarela / Fez um desembarque fascinante / No maior show da terra / Será que eu serei o dono dessa festa / Um rei / No meio de uma gente tão modesta / Eu vim descendo a serra / Cheio de euforia para desfilar / O mundo inteiro espera / Hoje é dia do riso chorar / Levei o meu samba pra mãe-de-santo rezar / Contra o mau olhado eu carrego meu patuá / Eu levei! / Acredito / Acredito ser o mais valente nessa luta do rochedo com o mar / E com o ar! / É hoje o dia da alegria / E a tristeza, nem pode pensar em chegar / Diga espelho meu! / Diga espelho meu / Se há na avenida alguém mais feliz que eu / Diga espelho meu / Se há na avenida alguém mais feliz que eu. (É hoje! – samba de Didi e Maestrinho).

Momentos antes do último debate entre os candidatos a governador do Paraná e a quatro dias das eleições do primeiro turno, o candidato Roberto Requião ainda estava retocando a maquiagem quando precisou ouvir uma última ordem de seus estrategistas políticos:
Governador, não aceite provocações. Contenha-se! Requião ajeitou o paletó e se dirigiu ao estúdio da televisão deixando para trás uma resposta inconformada:
— Hoje eu vou obedecer, será do jeito de vocês. Mas se eu for para o segundo turno, vocês é que vão me obedecer, será do meu jeito! Roberto Requião seguiu para o debate paramentado de reverendo, acompanhado de seus coroinhas, e todos vimos aquela cerimônia litúrgica. Neste segundo turno, o candidato é quem manda, do seu próprio jeito. Como deixou bem claro em entrevista na manhã de ontem, Requião não vai aos debates em missão de paz, vai à luta.

O compositor Caetano Veloso, em entrevista ao jornalista Jorge Bastos Moreno, cantou o que foi este primeiro turno das eleições para presidente: “Todo o mundo está ainda sentindo a virada que foi essa eleição ir para o segundo turno. Achei que, depois de ter certeza de que haveria segundo turno, Alckmin parecia outro homem. Toda a energia e inspiração que parecia lhe faltar durante a campanha apareceu de repente naquele momento em que ele, pedindo para abaixarem os microfones que o estavam afogando, deu o tom ideal do embate.

Lula também melhorou. Demorou, mas ele afinal deu uma entrevista coletiva digna desse nome. Ao vivo, pela TV. Se a nova situação deixou Alckmin quase eufórico, deixou Lula quase deprimido. Ambos ganharam com isso. Lula deixou de dizer aquelas bobagens megalômanas que vinha repetindo ultimamente. Alckmin deixou de ser um fantasma de candidato”.

Roberto Requião e Osmar Dias não serão os mesmos do primeiro turno. No primeiro ato, todos estranharam o cordial personagem interpretado por Roberto Requião, que nunca mandou flores aos adversários. Ele é o reverso, quem o conhece lá de trás já ouviu dele uma frase que define sua tática de guerra:
— O inimigo é o sal da terra!
Por seu turno, Osmar Dias foi à cena no papel de senador; e não de candidato. Não se deu ao trabalho nem mesmo de tirar da fatiota a poeira de Brasília. Para usar das observações de Caetano Veloso, Osmar Dias “foi um fantasma de candidato”. Na noite de domingo, quando foi carregado nas costas por seus correligionários, a caminho da lingüiçada e do foguetório, o senador, enfim, tirou o paletó de Sua Excelência e se fez candidato:
“toda a energia e inspiração que parecia lhe faltar durante a campanha apareceu de repente naquele momento em que ele, pedindo para abaixarem os microfones que o estavam afogando, deu o tom ideal do embate”.

Enfim, teremos eleições sem frases feitas, da cara lavada, sem maquiagem. Os candidatos vão mostrar suas verdadeiras caras e os eleitores vão olhar no espelho para reconhecer com quem são mais parecidos. No vislumbre, não se acharão semelhantes aos candidatos que se apresentaram no primeiro turno. Aqueles anjos barrocos na penteadeira de uma casa de tolerância.

Dante Mendonça [04/10/2006]O Estado do Paraná.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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