Ticiana Vasconcelos Silva

E tá vendo a pinta bem no meio do peito? É a marca de um coração, de uma alma e de um espírito em um só corpo. A união de todos os aspectos. A matéria a serviço do universal. O amor incondicional. A veia do artista. O olhar do caçador. O alento do mistério. O segredo. O ímpeto de um ser que abdicou das construções ilusórias. A vitória. A luz que sai da vastidão. A condição mística da solidão. A incógnita da filosofia. A maestria. A dimensão abstrata. O símbolo da escuridão. O medo e a razão. Destino e prontidão que tremem diante da conclusão rápida de toda a desmistificação. O inepto desejo destruído. Eu, a maligna sensação do deserto. Como um cetro menor. Como a nota maior. Poluída pela miséria. Sorrateira como o inglório Deus da unção. Que se esquivou da tarefa de abrir a arca da divisão entre o mundo e a prisão. Forasteiros e terrenos. Gentios e mosqueteiros. Todos que mantiveram a distância do cemitério e do silêncio da injustiça. Para não dar continuidade ao sol que continua impassível. E não nos dá alívio. Pois somos a correnteza da inquietude. E se nos aquietamos, ficamos impunes. E se nos rebelamos, somos fios desalinhados. Do séquito senil e desentranhado das aldeias. Meros beatificados das ideias mínimas e  dos predomínios da ficção. Perdemos a definição da destreza da distinção entre o norte e a solução rápida, tácita e pronta a dizer não. Pronta a atacar a mais séria criação. Por isso, descrevo o que me faz agir sem ação. O sábio, o mágico, o destemido coração.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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