Ah, bom. Mais interessante ainda foi o exemplo dado por Bivar. Ele comparou o caso da indicação do filho de Bolsonaro com o casamento entre Catarina de Aragão e Henrique VIII, rei da Inglaterra. O presidente do PSL quer parecer erudito. Parece coisa de leitor do Wikipédia, embora seja mais provável que essa conversa venha da série da Netflix que explora este período Tudor.
Vejam sua explicação mais detalhada: “Catarina de Aragão era filha do rei Filipe, foi casada com Henrique VIII para fazer uma aproximação entre Espanha e Inglaterra. Isso faz parte, é um contexto. Antropologicamente nós somos os mesmos, do mundo da pedra até hoje, então essa sinalização do Brasil em relação aos Estados Unidos é uma relação de muita proximidade”.
Esses fatos interpretados pelo presidente do PSL de forma singular ocorreram no século 16. Ele não conta que logo Henrique VIII quis dar um chega-pra-lá em Catarina, que não lhe dava um filho varão para herdeiro. Mas não teve acordo com Roma. A anulação do casamento não foi permitida pelo papa Clemente VII. O conflito do rei com Igreja Católica deu origem à Igreja Anglicana, criada para ele poder casar com Ana Bolena, mais famosa hoje em dia que Catarina de Aragão, mas que também se deu mal com o maridão. Foi executada sob acusação de adultério. O rei conseguiu o divórcio criando sua própria igreja, mas não teve felicidade no casamento. Casou com seis mulheres, mandou matar duas delas.
Se tivesse interesse, Bivar poderia ter usado os outros casamentos para justificar a indicação do filho por seu chefe Bolsonaro. Não houve nenhum sem implicação política. Seria de bom tom deixar de lado o de Ana Bolena e da outra falecida, claro, pois tendo sido mortas a mando do marido fica delicado encaixar no tema da embaixada americana. Acredito que também não caberia usar as amantes do rei inglês para exemplificar, nem falar de sua sanha assassina, que fez alguns historiadores o terem como um psicopata.
Intrigas, traições, cabeças rolando, teve até fake news naquele tempo, enfim muita coisa parecida com a corte bolsonarista. A época escolhida por Bivar para posar de erudito serve para variadas leituras, encaixando-se até nos aspectos religiosos do bolsonarismo. É o período da Reforma Protestante, o que pode servir talvez para uma inflexão na intensa relação político-religiosa atual de Bolsonaro com a bancada evangélica. Mas vamos esperar que o próprio presidente do PSL desenvolva sua espantosa e muito interessante explicação para o ato de nepotismo de Bolsonaro. Agora, com Henrique VIII no meio, o assunto pode render ainda mais.