Ele, sempre — Millôr e o autoentendimento

Há mais de cinco décadas escrevendo na imprensa, sempre me disseram,  os que me disseram, que me admiravam, os que me admiravam, mas não me  entendiam (quase todos). Admirado, no sentido de perplexo, procurei, centenas de vezes, descobrir quem eu era e o que fazia neste perfeito mundo profissional de vocês todos. Aqui vão algumas dessas tentativas de auto-entendimento. Ou autotapeação.
Cego descrevendo o arco-íris.

Professor de catolicismo protestante pela sinagoga
islamita do Meyer.
Catedrático de retífica intelectual irracional e comprometida.
O exato.
O que saltou da barca, de noite, em alto-mar
Professor de espeleologia de superfície.
Professor de Martini seco duplo pela universidade
abstêmia do Meyer.
Professor de bico-de-pena a óleo.
Escritor de capa e espada sem capa nem espada.
Eclesiástico sem batina, especialista em herética.
Surdo crítico musical.
Consequencia em busca de causa.
Único humorista subliminar do mundo.
Anodominereverteribus.
Medalha de ouro no concurso para ele mesmo.
Professor de reticências afirmativas pela universidade
definitiva do Meyer.
Catedrático em pureza virginal nos motéis de Brasília.
Tato em busca de sensações.
Cão simbólico, buldogue ocasional.
Professor de covardia recíproca e intemerata.
Dito, o bem-amado.
Anjo distraído passeando em Sodoma.
Mente sã, em camisa-de-força.
Anêmico doando sangue.
Coração a serviço do fígado.
Cientista tirando cara ou coroa.
Sherlock Holmes seguindo as pegadas de um passarinho.
Escravo escravocrata.
Expulso de Emanuel Vão Gôgo e Milton Viola por
incompetência onomástica.
O que regressou de onde nunca esteve.
Último envidraçado vizinho da pedreira.
ONG financiada pelo mensalão.
Professor de geriatria bem moça pela universidade
 gagá do Meyer.
Um lídimo a soldo da contrafação.
Um rato que afunda com o navio.
Um extinto muito vivo.
Recato completamente nu, na Playboy.
Linha curva em busca de paralela.
Foz bancando nascente.
Matéria em busca de prospecção.
Professor de esquizofrenia heróica pela universidade
 panfletária do Meyer.
Reta em ziguezague.
Um indício à cata do detetive.
Vatel servindo média.
Antropófago vegetariano.
 Enfim um esccritor sem estilo!
(Publicado nos anos 90)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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