Para que a inovação prospere, sociedades devem ser mais tolerantes, não menos
Precisamos falar sobre Elon Musk. Além de mal-educado (vide emojis de cocô), suas opiniões políticas podem ser controversas. Ao que consta, ele também é um patrão difícil. Dizem ainda que destruiu o Twitter. Só que nem seus mais severos críticos negam que ele seja um inovador.
Transformou os carros elétricos em realidade e revolucionou o campo dos foguetes espaciais, apesar de reveses isolados. E essas são só duas das muitas áreas em que ele atua. Meu ponto é que, apesar de Musk por vezes dizer coisas ultrajantes, no frigir dos ovos é bom para o mundo que existam pessoas como ele.
A correlação entre capacidade de inovar e excentricidades é alta e não vem por acaso. O psicólogo Geoffrey Miller, num delicioso artigo intitulado “The Neurodiversity Case for Free Speech“, sustenta que Isaac Newton, um dos maiores gênios de todos os tempos, não duraria muito numa universidade de elite moderna, com seus códigos de linguagem e de comportamento.
É que Newton tinha personalidade obsessiva paranoide, síndrome de Asperger, humor instável e ainda era dado a episódios de mania e depressão psicóticas. Ele simplesmente não era capaz de reconhecer o que poderia configurar “desrespeito à dignidade de terceiros” e, mesmo que conseguisse, dificilmente se controlaria.
Para Miller, várias condições, como Asperger, TDAH, Tourette, TEPT e transtorno bipolar, que reduzem o traquejo social e podem favorecer o pensar fora da caixa, têm prevalência maior em universidades que na população geral. São os esquisitões. Não é realista exigir que esses indivíduos se comportem de acordo com códigos concebidos para neurotípicos. Ao fazê-lo, limitamos os horizontes dessas pessoas, quando não as excluímos.
A ideia central de Miller é que, a menos que desejemos castrar a criatividade e estagnar a inovação, a sociedade em geral e as universidades em particular precisam de mais, não de menos, tolerância.