Elon Musk, faz tempo, já assumiu, do alto do seu império, que está cagando para nós. Recentemente, instado a tomar providências com relação às mais de 500 contas na plataforma que fazem apologia do crime e ode a massacres nas escolas, o Twitter se manifestou dizendo que não pode coibir a “liberdade de expressão” e que tais perfis “não representam necessariamente uma apologia do crime”.
O que será, então, apologia do crime senão a sua própria incitação? Aos jornalistas que questionaram a desídia da plataforma, ele voltou a responder com o seu emoji de cocô, usando toda a sua classe e maturidade. Esses são os termos de uso da plataforma: não esclarecer, não responder, debochar.
Não é de hoje, nem é a primeira vez. O bilionário mimado, que quando não gosta de alguma coisa reage espalhando merda, já mandou o famigerado emoji até para o CEO do próprio Twitter, no meio de uma discussão sobre a quantidade de contas suspeitas da plataforma.
Musk é muito cuidadoso, por outro lado, com as contas, quando se trata de seus próprios interesses. Depois de banir a @Elonjet que rastreava o seu jatinho (essa sim, para ele, feria a sua “liberdade”), suspendeu contas de vários jornalistas que compartilhavam sua localização. Poucos dias antes, ele tinha tuitado: “Meu compromisso com a liberdade de expressão se estende até mesmo a não banir a conta que rastreia meu avião”.
Tais atitudes trazem à superfície a sujeira que mora no subterrâneo das redes sociais e de seus controladores, que se preocupam com os seus próprios umbigos e não encaram com a devida seriedade as políticas para frear a disseminação e o estímulo à violência. Pelo contrário, responder com um cocô sorridente a questionamentos tão importantes e não fazer o que lhe compete fazer é ser parte do desserviço, é ser conivente, é se permitir ser um canal disseminador de ódio.
A complacência das redes potencializa os meios de os extremistas levarem suas ideias para um público maior. É, portanto, seu papel agir com rapidez para desarticular as ações que estimulam a violência, do contrário, ficar inerte diante de conteúdos nocivos é, em última instância, permitir que ameaças graves se materializem.
Não existem bom senso nem jogo limpo do universo digital. Por isso existem as leis. Mas nem toda lei é eficiente. Enquanto se aguarda a aprovação do projeto que torne o marco civil da internet eficaz, o estrago já foi feito. Enquanto se aguarda o cumprimento da determinação da Secretaria Nacional do Consumidor, cuja multa não fará nem cócegas no bolso dos controladores das redes, a ameaça do dia 20 de abril já assombrou as escolas e a cabeça das crianças.
Resta às escolas e às famílias responderem às intimidações e ao medo disseminado, sem se render às ameaças, nem por meio de um emoji qualquer, mas com acolhimento e muita conversa, para que as crianças incorporem a cultura de paz e aprendam o que é se expressar livremente de verdade.