En garde: bangue-bangue!

A cada doze minutos tem alguém sacando um revólver para matar alguém. Cuidado, abaixe-se! Por não fugirem a tempo, quarenta e cinco mil pessoas morrem no Brasil todo ano. Setenta por cento dos assassinatos são praticados por motivos fúteis – até disparo acidental ou fechada no trânsito. Sessenta e cinco por cento dos homicídios são cometidos por pessoas sem antecedentes criminais. E, o pior de tudo, três em cada quatro homicídios são cometidos com arma de fogo. Bangue-bangue! E the end.

Outro parágrafo desviado, o de cima, desvinculado do propósito deste texto. Eu devia mais é passear pelos seguros caminhos das letras, da filosofia, dos conceitos e suas aplicações. Pegar a estrada de Voltaire e ir até Goethe, mas parando em algum boteco para tomar uma cerveja e pensar na vida. Como o que disse Bacon: Dinheiro é como esterco: só é bom se for bem espalhado. Ah, diga isso em público e será malhado. Medito, logo, desisto. Espero apenas Heráclito atravessar a rodovia dizendo: A mistura que não é sacudida se decompõe. Aí, não posso deixar de rir enquanto acelero o carro em direção a Goethe, induzido pela necessidade premente de ler algo que clareasse o dia de ontem – que se extinguiu metamorfoseado em um grande ponto de interrogação. Com absoluta certeza Heráclito não sabia que nasceu 530 anos antes de Cristo. Não sabia que estava fluindo para o maior divisor de águas do mundo. Atravessou a rodovia igual a um cachorro qualquer e se embrenhou no mato.

Empédocles viu que a natureza faz muitas tentativas com os organismos. Combina formas, órgãos e utilidades e, quando tudo dá mais ou menos certo, o organismo sobrevive e leva adiante seus genes. Alguns empacam, outros se extinguem inexoravelmente. A adaptabilidade levou a certas aberrações como o ornitorrinco, o bicho-preguiça e outros. Mas criou a leveza do beija-flor, a elegância tigre, a beleza da gaivota. E tudo isso está por um tiro. Bangue! Zing! Por sorte pegou no ombro. Parte do corpo do mocinho que não é nunca zona mortal.

*Rui Werneck de Capistrano não tem porte de arma nem de estilingue

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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