Lejambre

Enéas Lour|1955 – Hoje eu acordei e eu era outro, completamente. Sentei na cama e fiquei tentando lembrar de como eu era ontem. No espelho do banheiro constatei que, de fato, eu era outro mesmo! Meu olhar estava mais sério, mais fundo, mais triste. As rugas mais frias, azuis. Minha boca sem brilho, sem graça. Meus poucos cabelos, mais brancos do que estavam ontem. Eu estou mais velho.

Mas, afinal, todos estamos mais velhos hoje do que ontem, não é? Porém, mais do que com a falta de cabelos e a abundância de rugas, eu me choquei com uma mudança interna, mais fina, mais sutil, quase imperceptível a olho nu, porém, mais forte. Este outro eu, velho, é mais de mim mesmo, de outro jeito. Mais de mim como sempre fui quando sozinho. É mais eu como nunca fui antes de ser como sou hoje.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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