AFASTADA do hospital Albert Einstein ao comparar a luta contra o coronavírus ao Holocausto, a médica Nise Iamaguchi desculpa-se das declarações. Desta vez assistida por advogado, isenta-se da suspeita de antissemitismo: “tenho uma irmã convertida ao judaísmo”. O doutor advogado não viu o outro lado da moeda: esse argumento não isenta a suspeita de racista. É da mesma índole de quem nega ser racista porque tem amigo preto. Ou do que diz adorar comida chinesa.
A conversão não faz o judeu; há os que, como a irmã da médica, se convertem para casar – não raro formalidade anódina, que carrega o toque do sincretismo brasileiro, que acaba sendo mera formalidade. Conheci o caso emblemático, já na fronteira do patológico, do filho de pai árabe e mãe judia – portanto essencialmente judeu – que, revoltado com a separação dos pais, assumiu-se antissemita, bradando que a mãe merecia a solução final nazista.
Há os que cultuam a mística do judeu. Como o chato que atormentava o rabino para ser convertido, viciado no ‘filme Énie Frânqui’, que assistira oito vezes. O rabino perdeu a paciência: “Você pode ter gostado do filme, mas a história está num livro, o Diário de Anne Frank. Além disso, não se diz Énie Frânqui; ela não era britânica, nasceu e morreu na Holanda, onde escreveu o Diário. E o nome se pronuncia quase igual no português. Basta tirar o som nasal do Anne”.