Dr. Paul Hammond continuava levando sua vida austera. Nem sabia bem por quê. Era fácil para ele confundir o pôr-do-sol com um litro de rum. Embevecia-se diante de qualquer frase soprada por um vento mais afoito e tinha respeito muito grande pelos bárbaros.
Afagava a humildade sem se importar que ela fosse uma negação a si próprio de uma superioridade que pudesse ter adquirido sobre outrem. Pedia licença para falar quando na presença de irmãos mais afortunados ou apenas mais salientes. Seus gestos eram comedidos e todos provenientes de uma necessidade interior de manifestação. Nada escapava da sua meditativa esperteza. Ó, que história chata! Seria mais fácil agora fazê-lo atravessar uma rua de São Paulo. A Avenida Cidade Jardim, por exemplo, nas proximidades do Jockey Club. Ia virar pasto de urubus em dois minutos. Esse Paul Hammond que vá cantar noutra freguesia! Aparece uma frase salvadora: ‘Pelo menos numa coisa homens e mulheres concordam: nenhum deles confia em mulheres’. É para rir no meio de uma tarde gris com nuvens cinzentas de longas asas aproveitando as correntes aéreas. Ó, tarefa ingrata a dos santos salvadores, a dos mártires do progresso, impávidos colossos de carne e osso. Vamos nos divertir apenas pela diversão. Não se aborreça com esta seriedade toda que vem vestida de doirado feito deusa das ilusões perdidas. Os compostos da bazófia são todos façanhudos e repletos de sucesso. Pavoneie-se sem subtrair do rosto o nariz empinado e da alma, a mais alta orelha. Avalie como é celestial e embalsamadora a beleza relativamente frágil da constituição humana. Como é mal esculpida e toscamente articulada a provocação sexual de uma ovelha diante de um voraz lobo da estepe.
Ah, chega desse masturbatório invólucro que tenta se passar por semântica de alto coturno. Um belo par de pernas é tudo o que pode me tirar do sério, hoje. E me jogar para dentro do Jardim das Delícias. Mesmo que me soltem em cima os cachorros da desilusão da segunda-feira.