De meu lado, nas férias do último verão, descansei carregando pedra (né mesmo, Claudinha Slaviero?). Tendo como cenário a minha amada ilha de São Francisco, em Santa Catarina, na deslumbrante casa “al mare” do primo Luiz Carlos Bueno, me impus um desafio, sempre adiado: escrever uma história para crianças de 0 a 100 anos. Na melhor tradição do bruxo de minha devoção, Lewis Carroll, o gênio de “Alice no País das Maravilhas”.
A ousadia rendeu uma fábula em versos (“O Gato Peludo e o Rato-de-Sobretudo”) que, para minha honra e orgulho, vertida ao espanhol pela poeta uruguaia, Ana Chamorro ; ao inglês novaiorquino, por André Cechinel; e ao guarani “salvage” por Douglas Diegues, caiu nas graças de inúmeras “cartoneras” latinoamericanas – do Uruguai ao México, capitaneadas pela Dulcinéia Catadora, de São Paulo.
As “cartoneras”, editoras alternativas, sem fins lucrativos, trabalham com papelão comprado dos carrinheiros e envolvem, na confecção dos livros, os filhos dos catadores de papel. O “miolo” dos volumes é programado via computador. As capas, irrepetíveis todas!, são feitas, e grampeadas, uma a uma, pelos meninos ligados às ONGs, num trabalho singularíssimo. Penso seja o que há de mais “guevarista”, “hasta la derradera ternura”, em “nuestra América”. Não confundir, claro, com Fidel Stalinista Castro & caterva…
A utopia guevarista, diga-se logo, não morreu. Sonhará sempre com um mundo mais humano, democrático e, claro, com justiça, pão e arte para todos. Desisti de comunismos há décadas e considero o liberalismo uma balela para enganar desprevenidos… O “guevarismo”, por certo, um dia há de triunfar! Mano Solda que o diga. Acho que somos os dois únicos adeptos “oficiais” do guevarismo…
E para coroar a semana, recebo a primorosa edição da Katarina Kartonera, recém-criada em Floripa por Dirce Waltrick e Sergio Medeiros, com dois exemplares de “O Gato Peludo e o Rato-de-Sobretudo”. Nos mesmos moldes de todas as cartoneras daqui e do exterior! E o que é melhor, em edição bilíngüe: português mais a versão ao inglês do “novaiorquino” André Cechinel. Te cuida, Lewis Carroll!
É isso, velho Tezza :“Deus quer/ o homem sonha/ a obra nasce”. (Fernando Pessoa).